- Folha de S. Paulo
Fará muito bem Michel Temer se promover as reformas que estão ao seu alcance
A despeito de toda a confusão política armada para impedir a reforma previdenciária, o ano passado terminou melhor do que se esperava. Depois de todos os infortúnios e de idas e vindas, registramos um crescimento modesto (em torno de 1%), uma taxa de inflação no limite inferior da "meta" e um confortável superávit externo, graças à política econômica do presidente Michel Temer.
A melhor surpresa veio da importante recuperação da produção industrial. Sua taxa acumulada de crescimento nos últimos 12 meses tornou-se positiva depois de setembro e encerrou o ano com um crescimento de 2,5%, contra uma queda de 2014-2016 da ordem de 17%. Fato significativo é que, na margem, entre dezembro de 2016 e o seu homólogo de 2017, o crescimento foi superior a 4%, atingindo o Nuci (Nível de Utilização da Capacidade Instalada) de 78%. Isso deixa um bom espaço (se houver demanda) para um crescimento cíclico mais robusto neste ano. Outro indicador positivo para o ano passado foi a queda do desemprego de 13,7% no primeiro trimestre para 11,8% no quarto. Dadas essas condições, não parece exagero esperar um crescimento de 2,5% a 3% neste ano, com uma inflação bem comportada e boa situação externa.
Parece difícil conciliar esses números com a baixa "popularidade" do governo, mas é mais difícil, ainda, negá-los como fazem seus opositores. A situação da economia no mundo neste ano deve ajudar-nos a atingir aqueles objetivos: um crescimento de 3,9%; uma taxa de inflação de 1,9%; e uma elevação moderada da taxa de juros, que deverão gerar um aumento de 4,6 no volume físico do comércio internacional.
A grande frustração de 2017 foi a exagerada judicialização da política, acompanhada pela politização da Justiça, e a incapacidade do governo de convencer a sociedade que a reforma da Previdência é apenas um pequeno passo para reduzir a sua formidável injustiça. Trata-se de importante transferidor de renda dos mais pobres (que votam) para a bem nutrida alta burocracia estatal (que detém o poder sem voto).
Por que o Congresso se recusa a enfrentar o problema? Na minha modesta vivência de 20 anos de Câmara Federal, porque o deputado pensa longe. Todos os partidos que não têm condições de ganhar a eleição votam contra porque "sabem" que o vencedor (que terá de resolvê-lo) não elegerá a maioria e terá de se ajustar às "novas condições"... Quem resiste à tentação de poder "transacionar" duas vezes o mesmo voto?
Fará muito bem o presidente Temer se abandonar a Previdência e usar os 11 meses de governo para promover as reformas que estão ao seu alcance. Se fizer isso, será lembrado como "reformista", como é o seu desejo.
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Antonio Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda (governos Costa e Silva e Médici), é economista e ex-deputado federal. Professor catedrático na Universidade de São Paulo
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