- Folha de S. Paulo
Com um discurso lido de 22 minutos, Fernando Collor lançou formalmente nesta terça (6) sua pré-candidatura à Presidência.
Sorumbático, como de hábito, citou Schopenhauer: a vida embaralha as cartas, e nós jogamos. De fato, o mesmo misturador de cartas de 1989 parece estar mexendo nelas de novo.
Naquele ano, o país foi às urnas escolher o presidente depois de quase três décadas, também em um clima de muita instabilidade política.
Governador de Alagoas, Collor surgiu do nada, ganhou em um país dividido e fez uma gestão destrambelhada, que acabou em impeachment.
No discurso desta terça, ele teceu loas a si próprio e prometeu moderação, equilíbrio e maturidade, tudo o que lhe faltou há 30 anos. Não falou um a sobre os graves motivos que o derrubaram, entre os quais as relações com o ex-tesoureiro PC Farias. Nem que hoje continua tão enrolado quanto, sendo réu na Lava Jato.
Mas Collor-2018 não reencarnará Collor-1989. Não é mais o novo, é velho conhecido: 44% do eleitorado diz que não vota nele de jeito nenhum.
Aspira ser o novo, no atual remake, o apresentador Luciano Huck. Ele descartou a candidatura, mas foi ditar regras sobre o Brasil que queremos no Domingão do Faustão. E ganhou, nesta terça, incentivo de FHC, segundo quem Huck bota em perigo a política tradicional.
Nada indica que 2018 repetirá 1989 ou que Huck é Collor mas também nada indica o contrário.
Na esquerda, mais semelhanças. Lula é Lula. Sai Brizola, entra Ciro Gomes. No tucanato, a desempolgação com Mário Covas lembra Geraldo Alckmin. E o governismo se debate em igual abismo de impopularidade e falta de empatia, a exemplo de José Sarney e Ulysses Guimarães, que terminou em sétimo. Há até Enéas, com a diferença que Jair Bolsonaro decolou antes graças às redes sociais.
A eleição presidencial de 1989 ocorreu após vácuo de três décadas. Outras três separam aquela desta. Que comecem os jogos vorazes.
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