Kassab admite que partido pode negar apoio ao ministro na disputa pelo Planalto; para aliados, opção seria concorrer por outra sigla governista
Pedro Venceslau / O Estado de S.Paulo
O PSD admite que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, deve perder o apoio da sigla para disputar a Presidência da República. Para aliados de Meirelles, se esse cenário se consolidar, o chefe da equipe econômica pode migrar para outra legenda da base aliada do Palácio do Planalto para ser o candidato governista.
Com 40 deputados federais – a quarta maior bancada da Câmara – o PSD se aproximou do PSDB e tende a subir no palanque do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, na campanha pelo Palácio do Planalto.
A mudança de estratégia da legenda, que tem o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, como presidente licenciado, foi divulgada nesta terça-feira, 6, pelo jornal Valor Econômico e confirmada pelo Estado.
Procurado pela reportagem, Kassab foi cuidadoso ao tratar do assunto. “O centro da política brasileira precisa ter um único candidato. Estamos nos esforçando no PSD para que seja o Meirelles, mas, na hora da decisão, se ele não for o mais viável, vamos ter bom senso e entender”, disse o ministro. “Se as pesquisas e perspectivas melhores não forem dele, mas de outro partido, aí vamos, possivelmente, caminhar com outro partido”, concluiu.
Meirelles não quis se pronunciar. O Estado apurou, no entanto, que o ministro da Fazenda não considerou o gesto uma “deslealdade”, já que ocorreu em tempo de ele mudar de partido. O limite para a troca é abril.
Legado. A avaliação reservada de Meirelles é de que Alckmin não deve fazer na campanha a defesa do legado de Michel Temer. Aliados lembram que o governador paulista não trabalhou na Câmara por votos tucanos para barrar as denúncias da Procuradoria-Geral da República contra o presidente.
O entorno de Meirelles acredita que ele consiga melhorar o desempenho nas pesquisas de intenção de voto se deixar o ministério e puder circular livremente como pré-candidato. Na mais recente pesquisa Datafolha, divulgada no dia 31 de janeiro, Meirelles apareceu com 2% no melhor cenário.
O ministro tem viajado pelo Brasil e investido nas redes sociais para se tornar mais conhecido, mas ainda não começou a costurar alianças partidárias para concorrer à Presidência.
Economia. O discurso de Meireles já está pronto: depois de presidir o Banco Central na gestão Luiz Inácio Lula da Silva e comandar a Fazenda de Temer, ele seria o “médico” que salvou a economia duas vezes. O ministro descarta, porém, entrar na disputa sem o apoio integral do governo Temer.
A articulação do PSD foi recebida com entusiasmo pelos tucanos. “Isso é uma indicação que o centro deve se unir em torno do Geraldo”, afirmou o deputado federal Ricardo Tripoli (PSDB-SP), ex-líder do partido na Câmara.
Aliança. A perspectiva de uma aliança PSD-PSDB reforça a possibilidade de Alckmin ser ungido a candidato único do centro em uma grande coligação governista que teria um tempo robusto de exposição na TV no horário eleitoral gratuito.
Pela estratégia do PSD, esse alinhamento se repetiria em São Paulo: o partido indicaria o candidato a vice (provavelmente Kassab) em uma eventual chapa para o governo estadual do PSDB. A preferência da sigla, que tem quatro pré-candidatos, é pelo prefeito João Doria.
Kassab tratou do assunto em uma reunião reservada com Alckmin nesta segunda-feira, 5, em São Paulo. Por esse arranjo, o MDB também entraria na coligação, que teria um perfil “francamente governista” e preservaria Temer na campanha paulista, base do presidente.
Doria tem conversado com o presidente sobre o cenário no Estado. Para contemplar o MDB, o empresário Paulo Skaf, presidente da Fiesp, teria de concorrer ao Senado e abrir mão de tentar o Palácio dos Bandeirantes. A segunda vaga de senador poderia ficar com Marta Suplicy (MDB) ou um nome escolhido por outro partido da base, como PRB, DEM ou PPS.
Para os tucanos paulistas, esse desenho fortaleceria o número 45 na campanha, o que ajudaria a eleger uma boa bancada de deputados, e impediria o avanço do vice-governador, Márcio França (PSB).
Aliado de Alckmin, França está montando uma coligação com partidos médios e pequenos que estão na órbita do governo paulista para tentar a reeleição – ele deve assumir o cargo em abril, quando o tucano pretende renunciar para disputar o Planalto. Há um setor do PSDB, porém, que resiste a uma eventual candidatura de Doria.
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