A volatilidade desses dias é um recado aos políticos que tratarão da reforma da Previdência, pois países com déficits como o Brasil estão expostos a choques externos
A brusca oscilação dos mercados, de segunda para ontem, fez o tempo voltar, nas aparências, ao final de 2008, quando estourou a bolha imobiliária, cujo epicentro foi Wall Street. São, porém, situações muito diferentes. Naquele momento, ocorreu mesmo uma séria crise de liquidez iniciada no mercado de hipotecas americano, agravada pela quebra do Lehman Brothers. Ondas de choque se propagaram pelo planeta.
Viveu-se um risco real de outra Grande Depressão, como em 1929/30. Mas houve “apenas” a Grande Recessão, devido à rapidez com que o Banco Central dos Estados Unidos, o Fed, sob a presidência de Ben Bernanke, agiu, jogando os juros no chão e inundando o mundo de dólares. O oposto do que ocorrera no final da década de 20. Bernanke era um estudioso do desastre de 29/30.
Já o que acontece agora, também a partir de Wall Street, parece um caso clássico de correção por expectativa. A economia americana está muito bem (desemprego de 4,1%, crescimento acima de 2%). E ainda receberá mais estímulos com o pacote tributário de Donald Trump. Mas esta fornalha é aquecida por juros muitos baixos (entre 1,25% e 1,50%). A divulgação, sexta, de que o desemprego continuava praticamente em 4%, serviu para consolidar a expectativa de que o Fed deve puxar as taxas de forma um pouco mais forte, a fim de evitar a inflação.
Para alimentar as incertezas, Janet Yellen acaba de ser substituída na presidência do Fed por Jerome Powell, também do conselho do BC americano. Não se sabe ao certo como reagirá. Yellen elevava taxas devagar. Powell é considerado seguidor da mesma estratégia de política monetária. Porém, na dúvida, buscam-se investimentos mais seguros que ações, mesmo porque elas subiram muito — do que se vangloriou Trump no seu discurso do estado da Nação. Por ironia, quando o movimento de vendas começou a ficar perceptível.
Wall Street caiu 4,6%, e o rombo se refletiu na Europa e na Ásia. Subiu ontem, mas esta é uma característica destes momentos. Trata-se de um movimento do mercado mundial que afetará países na proporção direta de sua vulnerabilidade a choques externos, devido a dificuldades estruturais, aos fundamentos frágeis. É o caso do Brasil, diante de um déficit crescente, causado pela despesa previdenciária descontrolada.
O abalo sísmico externo vem em momento adequado, para alertar os deputados, que na segunda 19 devem começar a tratar da minirreforma da Previdência. Se nada for feito, candidatos a presidente e a população em geral devem se preparar para tempos incertos.
Quem acompanhou crises externas desde a década de 70, passando pela mexicana, asiática, russa, argentina e brasileira, sabe que os US$ 380 bilhões de reservas do Brasil são insuficientes para conter um ataque especulativo forte contra o real — deflagrado pelo conhecimento mundial do desequilíbrio fiscal grave do país. É um aviso.
A única forma de se precaver contra os tempos de volatilidade em que o mundo parece entrar, embora cresça de forma sincronizada, é o Congresso sinalizar, com a reforma previdenciária, que entende ser necessário um ajuste. Isso não parece difícil de entender.
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