Herdeira de eleitores de Lula, caso ele fique de fora da disputa, ex-ministra afirma que ‘lei é para todos’ e ‘quem errou vai cumprir sua pena’
Marianna Holanda / O Estado de S.Paulo
A pré-candidata da Rede à Presidência da República, Marina Silva, afirmou que a “lei deve ser para todos”, mesmo se significar a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado em segunda instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá (SP). “Não temos que ter uma lei para o Lula, para o Aécio (Neves), para o Jader Barbalho ou para o Renan Calheiros”, disse, em entrevista ao Estado, a ex-ministra do Meio Ambiente na gestão do petista.
Ao lado do ex-governador Ciro Gomes (PDT), Marina é a maior herdeira do eleitorado petista, em um cenário de ausência de Lula nas urnas, segundo a mais recente pesquisa Datafolha. Questionada como pretende arregimentar esses votos, ela afirma que “o voto não pertence nem aos partidos, nem às figuras políticas”. A disputa, segundo diz, segue aberta até outubro.
• O ex-presidente Lula foi condenado na segunda instância e corre risco de não concorrer nas eleições de outubro. Como seria uma eleição sem Lula?
Se reduzirmos a eleição a pessoas, ainda que sejam muito importantes, a gente vai diminuir a importância do debate para os problemas que estamos vivendo. Lula está fazendo aquilo que a lei lhe assegura, que é buscar todos os mecanismos de revisão para as decisões que foram tomadas pela Justiça. Meu entendimento, com base nos autos, é que foi uma decisão técnica. Obviamente que ele tem o direito de fazer esse percurso, mas chegará o momento em que teremos que nos deparar com o cumprimento da lei e eu advogo que a lei deve ser cumprida por todos, independente do poder econômico ou político. Espero que nessas eleições cada candidatura se coloque independente dos concorrentes.
• A sra. concorda com a condenação? Se for confirmada, após recursos, Lula deve ser preso?
A lei deve ser para todos. Não podemos ter dois pesos e duas medidas, essa é a minha posição. Você não pode ter a demanda por impunidade em função de quem está sendo julgado, nem a demanda por justiça, por vingança em função da pessoa que está sendo punida. Temos que ter o correto equilíbrio – justiça é reparação. Quem errou vai cumprir sua pena de acordo com o que é estabelecido pela lei, assegurados todos os direitos da democracia. Obviamente que a gente precisa agora cumprir com o imperativo ético do fim do foro privilegiado. Com certeza, com isso, não teríamos seis ministros escondidos no Executivo, o próprio presidente da República e cerca de 200 parlamentares investigados na Lava Jato. Os parlamentares que têm foro, alguns deles investigados, se não fosse o autoinduto que lhes deram, estariam provavelmente nas mesmas condições que está o ex-presidente Lula. Nós não temos que ter uma lei para Lula, para Aécio (Neves), para Jader Barbalho ou para Renan Calheiros.
• A Lava Jato é alvo de crítica de setores da política. A operação cometeu algum excesso?
A ação do MP, de parte da Justiça, da Polícia Federal, que se materializou em uma frente chamada Lava Jato é uma das maiores contribuições que nós temos para o País desde a retomada da democracia. E hoje ela (Lava Jato) está sob ameaça, porque há uma aliança dos grandes partidos, das lideranças dos grandes partidos, porque todos estão envolvidos, em enfraquecer os trabalhos.
• A sra. se arrepende de ter apoiado no segundo turno, em 2014, Aécio Neves (PSDB-MG)?
Se fosse hoje, jamais teria dado o apoio. Se tivéssemos as informações que foram trazidas pela Lava Jato, com certeza a maioria (da população) não teria votado, declarado apoio, nem na Dilma, nem no Aécio. Porque ambos eram praticantes dos mesmos males e mazelas da corrupção e do caixa 2.
• Jair Bolsonaro (PSC-RJ) aparece liderando o primeiro turno nas pesquisas eleitorais. O deputado também disputa com a sra. o eleitorado evangélico?
É um momento difícil, em que a sociedade está envergonhada, decepcionada com tudo que aconteceu. Nesses momentos, sempre surgem aqueles que querem evocar o lado cinza da força. Vou entrar nessa campanha oferecendo, literalmente, a outra face. Para a face do ódio, a face do amor. Porque eu já sei o que me espera. Me dirijo aos cidadãos debatendo ideias e respeitando cada uma dessas pessoas. Nós estamos num Estado laico. Estado laico não é Estado ateu, devemos ter respeito pela liberdade de expressão, inclusive a religiosa. Sou cristão evangelica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário