Queda das Bolsas revela temores quanto ao desmonte das políticas de juros baixos
O que é bom desta vez não durou tão pouco assim. Com a queda aguda e abrupta dos últimos dias, o S&P 500, índice de referência do mercado de ações dos Estados Unidos, encerrou um raro período de quase dois anos de alta sem maiores sobressaltos.
Apenas do início de 2017 até a semana passada, o indicador mostrava valorização de 28%. No período, a economia global passou a crescer de modo mais rápido sem elevar a inflação, o que manteve os juros em patamares baixos. Tal combinação é perfeita para as Bolsas.
Embora o Fed, o banco central americano, venha elevando suas taxas gradualmente, seus congêneres na Europa e no Japão, outros grandes centros financeiros, ainda mantêm o custo do dinheiro próximo de zero.
Alertas de riscos não vinham faltando recentemente. Como é regra em episódios desse tipo, a bonança prolongada induz investidores a aumentarem cada vez mais suas apostas, muitas vezes recorrendo a financiamentos.
Quando os preços começam a cair, promove-se uma liquidação acelerada que por vezes ganha contornos de desespero. O crescimento do papel de computadores e algoritmos que operam de forma autônoma agrava essa predisposição.
Com a poeira ainda alta, começa-se a indagar o que há de concreto por trás das oscilações —e se a queda dos preços é prenúncio de algo errado na economia mundial.
Teme-se, em especial, que possa estar perto do fim o ciclo de crescimento da economia americana —que, acumulando quase nove anos, já se mostra o segundo mais extenso do pós-guerra.
A prosperidade recente reduziu o desemprego para 4,1%, uma das menores taxas já observadas. Depois de longa letargia, os salários dão sinais de aceleração, embora ainda haja muito a percorrer.
O perigo é que a conjuntura econômica já seja condizente com a aceleração indesejada da alta dos preços. Nos EUA, a inflação ainda está abaixo da meta de 2% ao ano, mas seus principais condicionantes já apontam para um ritmo mais forte.
Especulações à parte, parece haver certa discrepância entre o bom momento da economia mundial e a permanência de juros baixos, típicos dos momentos recessivos.
Ajustar a política monetária sem causar grandes turbulências é o desafio que ocupa os bancos centrais. Não será uma tarefa fácil. Enquanto o crescimento do PIB global persistir, as taxas devem continuar subindo, assim como a insegurança dos investidores.
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