Por Cristian Klein | Valor Econômico
RIO - O prefeito de São Paulo, João Doria, afirmou que, se a pré-candidatura do governador Geraldo Alckmin não forjar uma ampla aliança na eleição ao Planalto, o PSDB corre o risco de ficar fora do segundo turno, mesmo sem a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa.
Em visita a dois camarotes no Sambódromo, no segundo dia de desfiles de escolas de samba no Rio, Doria disse que a coalizão é "fundamental" e que se "um candidato de centro não for capaz de aglutinar forças partidárias de outras legendas importantes o PSDB e esse candidato não irão para o segundo turno".
Doria alertou que é "preciso respeitar também a força que terá Lula mesmo com o agravamento da pena". O ex-presidente, condenado em segunda instância, poderá ficar fora da eleição por causa da Lei da Ficha Limpa. "O Lula manterá sua candidatura até quando for possível. Quando não for, ele terá um preposto. Vai se vitimizar e dizer que votar naquele preposto é como votar nele. O Lula é muito esperto, muito hábil no uso das palavras. Mente com uma formidável categoria. Ainda que não seja o Lula, o candidato do PT pode [chegar ao segundo turno]. [Com] o Bolsonaro também é preciso ter respeito."
Sem Lula, o nome do PT mais cotado para substituí-lo é o do ex-ministro e ex-governador da Bahia, Jaques Wagner, que tem 2% das preferências segundo a última pesquisa do instituto Datafolha.
Doria minimizou a importância dos levantamentos eleitorais a oito meses da disputa, o desempenho de Alckmin aquém do esperado e a simpatia do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, presidente de honra do PSDB, pelo lançamento da candidatura do apresentador de TV Luciano Huck.
"Não creio que o ex-presidente Fernando Henrique insista no nome do Luciano Huck. Ele manifesta seu carinho pelo Luciano Huck e fala da importância e do desejo de renovação na política. Ninguém está em desacordo com isso, nem o governador Geraldo Alckmin", disse. A aproximação e as declarações de FHC sobre Huck, no entanto, irritaram o entorno de Alckmin, que está com dificuldade de reunir aliados para uma ampla coligação.
O prefeito afirmou que Alckmin tem seu apoio "independentemente das prévias" que ainda ocorrerão para decidir quem será o candidato a governador de São Paulo pelo PSDB. Doria evitou dizer se sairia do cargo de prefeito caso as prévias do partido sejam realizadas depois do prazo de desincompatibilização, em abril. Negou que a articulação para prejudicar seus planos parta do próprio governador, com quem travou uma disputa latente pela candidatura presidencial: "Não há disposição dele neste sentido. Houve manifestações de algumas pessoas, não do governador Geraldo Alckmin."
Doria defende que as prévias para a eleição a governador sejam feitas no mesmo dia, 11 de março, em que ocorrerá a da corrida presidencial, na qual Alckmin concorrerá com o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio. Entre os possíveis adversários do prefeito, estão o cientista político Luiz Felipe d'Ávila, o secretário de Desenvolvimento Social de São Paulo, Floriano Pesaro, e o ex-senador José Aníbal.
Ao adiantar as prévias, Doria garantiria disputar a indicação partidária sem ter que sair do cargo de prefeito. "Nem sequer defini se vou sair [candidato]. Apenas por bom senso, não tem sentido fazer duas prévias por uma diferença de uma, duas ou três semanas a mais, apenas para satisfazer o desejo de algumas pessoas, apenas por uma exigência de ordem pessoal. Isso custaria dinheiro do partido, pago pelos impostos dos contribuintes, e tempo dos militantes."
O tucano afirmou que a reunião da comissão executiva regional do PSDB no dia 19 decidirá a questão, "muito provavelmente de fazer conjuntamente" as duas prévias nacional e estadual. "Vamos aguardar o dia 19. A Executiva nacional recomendou que cada Estado tome sua decisão, aliás como manda o estatuto do PSDB", disse.
Do Rio, Doria viajou para Salvador, onde participou do Carnaval, no camarote da prefeitura, no circuito do Campo Grande, ao lado do prefeito ACM Neto (DEM) e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM).
Lá, Doria disse que não há nenhuma restrição a uma possível filiação do vice-governador Márcio França (PSB) ao PSDB: "Se o vice-governador quiser filiar-se ao PSDB, ele será bem-vindo, não há nenhum mal nisso. Mas vai enfrentar as prévias se desejar ser candidato".
A possibilidade de candidatura de França ao governo paulista divide o PSDB. Uma ala próxima ao governador Geraldo Alckmin considera que o apoio a França poderia ajudar numa costura nacional para que seu partido apoie os tucanos na eleição presidencial de 2018. Já o grupo ligado a Doria tenta emplacar o prefeito como nome do PSDB ao comando do Estado. (Com agências noticiosas)
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