- Folha de S. Paulo
Iria começar esta coluna dizendo que o Brasil produziu mais uma jabuticaba, o incrível caso do prefeito que durante a maior festa de sua cidade se manda para o exterior. Acabo de saber, porém, que tem pé de jabuticaba em outros países, o que me força a, em lamento, admitir que o mundo das metáforas nunca mais será o mesmo.
Marcelo Crivella (PRB) pelo menos deixou de acompanhar de perto os arrastões na zona sul e a malhação da classe política nos desfiles na Marquês de Sapucaí.
Um Michel Temer vampirão na Paraíso do Tuiuti e um Crivella-Judas na Mangueira à parte, ninguém foi mais contundente na crítica a políticos corruptos, às mazelas sociais e a intolerantes de toda ordem do que a Beija-Flor, a última a desfilar.
Um dos carros alegóricos era uma gorda ratazana conduzindo em suas costas o Congresso e a Petrobras, sede do maior escândalo da República.
Até aí nada de mais, visto que o clamor anticorrupção é um discurso tão fácil quanto o da paz mundial.
O diferencial da Beija-Flor foi incorporar a ele a pregação contra a intolerância, essa sim uma postura bem mais corajosa nos dias de hoje.
Boa parte dos que bateram nas panelas até 2016 calaram as colheres após o impeachment de Dilma Rousseff, alguns hoje aliando o genérico discurso anticorrupção a uma nauseabunda cartilha de bons costumes.
Um dos carros da Beija-Flor era estrelado pela drag queen Phabullo Rodrigues da Silva, mais conhecida como Pabllo Vittar, vítima de inúmeros memes homofóbicos na internet.
Ao final, ele se disse emocionado especialmente pelo que sofreu na infância, no Maranhão. A mesma dor de crianças hoje na mesma situação, oprimidas por almas que se recusam a abandonar a Idade Média.
O tema "principal" escolhido pela Beija-Flor foi o doutor Frankenstein, mote para a defesa do respeito à diversidade e do amor ao próximo —afinal de contas, monstro é aquele que não sabe amar.
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