O caos econômico na Venezuela espalha uma migração em massa para os países vizinhos. Em dois anos, 1,2 milhão de cidadãos deixaram o país e muitos mais estão a caminho. A Colômbia tinha 550 mil venezuelanos em seu território no fim de 2017 e 50 mil chegaram este ano. No Brasil, 40 mil deles aguardam autorização para permanecer no Brasil, esparramados em condições mais que precárias em Boa Vista, Roraima. Outros 200 mil fugiram para o Equador. A ruína provocada pelo governo de Nicolás Maduro engendra problemas sociais nos vizinhos, alimenta reações violentas anti-imigração no Brasil e coloca para países que já não garantem sequer bem estar a sua população pobre uma pressão adicional sobre recursos escassos.
Mesmo com as maiores reservas de petróleo do mundo, os chavistas levaram o país a uma ruína inédita. Se confirmadas as previsões do Fundo Monetário para 2018, o PIB venezuelano cairá mais 10%, completando um encolhimento de 48% em cinco anos, uma cifra espantosa para nações que não estão em guerra civil e dificilmente superável até mesmo para os que estão. Uma recessão dessas proporções, pela redução da renda, provocaria queda abissal do consumo. Mas no país de Maduro, que há anos raciona dólares e já não produz quase nada, as importações desabaram.
Não basta a um venezuelano ter salário e emprego - simplesmente não há alimentos e outros gêneros de primeira necessidade. Maduro pilota uma hiperinflação como se nada estivesse acontecendo. O dólar no mercado paralelo chegou na sexta-feira a 236.854 bolívares. Em janeiro, a cesta básica de uma família custava 10,8 milhões de bolívares, o mais alto valor em 20 anos e equivalente a 61 salários mínimos, segundo levantamento do Centro de Documentação e Análise dos Trabalhadores (Cenda) citado pelo jornal Tal Cual. Metade dos venezuelanos desceu à linha de pobreza em pouco tempo.
O governo chavista não divulga mais o índice de inflação há pelo menos três anos. A Comissão de Finanças da Assembleia Nacional, o congresso de maioria oposicionista que foi abalroado por uma Assembleia Constituinte fantoche e não tem mais nenhum poder, faz um levantamento informal dos preços e constatou que em janeiro eles deram um salto de 84,2%. O FMI estima que a inflação ultrapassou os 1.100% em 2017. Para os venezuelanos, é melhor dar o salto no escuro da imigração do que morrer de fome ou por falta de tratamento médico.
À incompetência de Maduro para garantir comida para seu povo se soma outra, a de ganhar dinheiro até mesmo com a única riqueza que a Venezuela produz há décadas: petróleo. Segundo a Opep, a extração de petróleo sob responsabilidade da PDVSA caiu 372 mil barris em janeiro, para 1,6 milhão de barris, diante de uma capacidade instalada de 2,4 milhões de barris. O corte acertado pelo cartel de petróleo no início de 2017 foi de 500 mil barris, cota que involuntariamente coube à Venezuela preencher quase por completo.
Nem a Venezuela nem a PDVSA têm dinheiro para pagar suas dívidas. O país deve US$ 64 milhões em bônus e a estatal do petróleo, US$ 56 bilhões. Assolada por corrupção, a única ideia que acorreu a Maduro foi colocar um general, Manuel Quevedo, no comando da empresa e do ministério da área. Quevedo entende tanto de petróleo quanto Maduro - isto é, nada - mas o apoio dos militares, diante de uma crise descomunal, é vital para a continuidade dos chavistas no poder - metade do ministério é ocupado por eles. As forças armadas também estão encarregadas da distribuição de alimentos e da produção de bens em diversos setores da economia. Esse é um dos motivos por que não houve ainda uma rebelião na cúpula militar nem tentativas de golpe de Estado.
A Constituinte convocou eleição para presidente em 22 de abril, cuja lisura tende a ser zero. Os principais partidos de oposição tiveram sua inscrição negada e seus principais líderes estão impedidos de concorrer, ou presos, ou foragidos. Não há mais caminho institucional para mudar o regime.
O governo, criminosamente, rejeita até ajuda humanitária internacional, oferecida pelo Brasil e muitos outros países. Por si só, os chavistas são incapazes de tirarem a Venezuela do buraco onde a meteram e só oferecerão mais do mesmo. Resta aos vizinhos acolher da melhor maneira possível as vítimas de um experimento econômico fracassado, travestido de socialismo.
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