Fazer campanha eleitoral e qualquer tipo de proselitismo desrespeitará a vítima e causará desunião, quando é preciso unidade no combate ao crime
A inqualificável execução da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Pedro Gomes, na noite de quarta-feira, no Rio, deflagrou uma reação do poder público à altura da provocação feita ao Estado pela criminalidade. Também gerou uma comoção na cidade, em todo o país e em algumas capitais no mundo, proporcional ao simbolismo da tragédia.
O acionamento da Polícia Federal, a mobilização da inteligência das Forças Armadas — que já atuam no Rio de Janeiro na intervenção federal —, integradas à investigação da Polícia Civil fluminense, assim como o empenho pessoal da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, indicam o correto entendimento de que se trata de um ataque às instituições. A mesma postura acertada tiveram o Congresso e o STF.
Fica em segundo plano o fato de Marielle ter sido vereadora do PSOL. Os atingidos foram todos que têm representação política obtida pelo voto, todos os eleitores, o próprio estado democrático de direito.
Também precisa ser relativizada a questão de a vereadora representar o trinômio “preta, mulher, favelada”, tão usado em proselitismos. Importa é que bandidos, com esse assassinato, buscam sinalizar que o poder é deles. Fosse Marielle “branca e rica”, a execução precisaria provocar a mesma reação do Estado e na sociedade. A morte de Marielle não pode ser apropriada por interesses partidários ou sectários. À esquerda e à direita. Será impedir que o crime possa mesmo ser um divisor de águas no confronto que Estado e sociedade travam contra o banditismo, a corrupção, contra todas as formas de delitos que solapam a cidadania e os direitos humanos em sentido amplo.
Cometido em período eleitoral, o crime tende a ser manipulado como instrumento de campanha, para atrair votos. Será um desrespeito com a vereadora, cuja candidatura foi a quinta mais votada. Neste sentido, foi um conforto perceber, em tomadas aéreas feitas quinta, no início da noite pela GloboNews, da aglomeração na Cinelândia, que o vermelho não era a cor predominante. Espera-se que isso tenha sido sinal de que, pelo menos naquele momento, no centro do Rio, muitas crenças políticas se mobilizaram para saudar Marielle e clamar pela rápida elucidação do assassinato e punição dos culpados, numa reação do estado democrático de direito.
Em sentido oposto, na multidão reunida à mesma hora na Avenida Paulista, em frente ao Masp, ouvia-se o clássico slogan de “Fora Temer”. Demonstração de oportunismo políticopartidário derivado da incompreensão do grave significado do assassinato da vereadora.
O momento é especial. Que seja aproveitado para se avançar nas ações integradas visando à extirpação do crime infiltrado no aparelho de segurança fluminense, bem como na coordenação entre os segmentos de toda a máquina pública que lutam contra a criminalidade.
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