- Valor Econômico
Ex-governador não quer aparecer ao lado de Temer
Os tucanos estão cobrando mais ativismo da campanha do ex-governador Geraldo Alckmin. O presidenciável do PSDB é conhecido por quase 80% do eleitorado, no entanto não chega aos 2% na pesquisa espontânea. O que é pior, oscilou negativamente na pesquisa eleitoral que a Confederação Nacional dos Transportes (CNT) encomendou ao instituto MDA, divulgada ontem, na qual Jair Bolsonaro (PSL) lidera em todos os cenários nos quais o nome de Lula não é apresentado ao entrevistado.
Até sexta-feira dizia-se no PSDB que Alckmin poderia ficar onde estava nas pesquisas, até o início da propaganda eleitoral. Só não podia cair. Pois o ex-governador caiu. Dentro da margem de erro, mas caiu. A chapa de Alckmin está quente. Dentro e fora do PSDB (leia-se PMDB). A sombra do ex-prefeito João Doria paira cada vez maior sobre a candidatura do ex-governador. Não passou despercebido aos tucanos que Doria, oficialmente candidato ao governo estadual, em sua mensagem de Dias das Mães dirigiu-se às "mães de todo o Brasil" e não às de São Paulo.
Na campanha de Alckmin está tudo arrumadinho. Na semana passada o pré-candidato fez uma reunião com o PSDB no qual apresentou os encarregados de áreas da campanha. A parte mais emocionante da reunião foi o economista Persio Arida prometer que a meta na Presidência é zerar o déficit em dois anos. "Foi uma reunião sem graça, desanimada. É de exasperar", relatou um tucano. A reclamação aumenta à medida que o PSDB vê Bolsonaro, Ciro Gomes (PDT) e até Marina Silva (Rede Sustentabilidade) desfilando país a fora.
Queixa-se da estratégia de Alckmin de jogar parado. Não está dando certo, como indicam as pesquisas. O ex-governador, no entanto, não dá demonstração de que pretende mudar. Num encontro com representantes do mercado financeiro, Alckmin registrou que continua no páreo, enquanto vários outros ficaram na largada. Não citou nomes, mas ficou evidente que se referia ao apresentador de TV Luciano Huck e a João Doria - à época em que fez esse comentário Joaquim Barbosa não havia surgido como a novidade do pedaço, mas o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) cabe perfeitamente na metáfora geraldina.
Outro aspecto questionado é a falta de uma articulação política mais efetiva e de resultados. No meio da semana passada Alckmin tomou o café da manhã com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e no domingo o deputado deu uma entrevista dizendo que o ciclo do DEM com o PSDB estava no fim. "Ele fala com as pessoas mas não conversa", diz um tucano que esteve no centro da tentativa de se articular o PSDB com outro partido e a partir daí a tal candidatura de centro. A conversa entre as duas siglas voltou a esfriar, depois de aquecer na semana passada.
A tentativa começou com uma conversa de dois ex-presidentes em Nova York: Fernando Henrique Cardoso e José Sarney, ambos preocupados com os riscos institucionais embutidos na crise política brasileira. Alckmin poderia ser o tão falado nome do centro para ganhar a eleição, tranquilizar e dar segurança aos mercados e recuperar o equilíbrio entre os Poderes da República, no próximo governo. O presidente Michel Temer concordou em falar com Alckmin, os dois trocaram um telefonema no qual o ex-governador ficou de voltar a chamar para marcar uma conversa entre os dois em São Paulo. Temer está esperando até hoje.
Temer parece mais acessível a um acordo. O presidente, por exemplo, esperou por um sinal de Alckmin para nomear ministra a secretária-executiva do Ministério da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro. O presidente do PSDB não se manifestou e o ex-ministro Mendonça Filho (DEM) tratou de fazer o substituto. O presidente também abriu conversa com o ex-senador José Aníbal, suplente do senador José Serra, que poderia ocupar a Secretaria de Governo, vaga desde a transferência do ministro Moreira Franco para o Ministério das Minas e Energia. Aníbal conversou com Fernando Henrique e com Geraldo Alckmin. Mas não sentiu retaguarda para seguir adiante.
Na visão do Planalto o que ocorre é que Geraldo Alckmin quer tudo o que o governo Temer tem de positivo: o tempo de TV do PMDB, inflação e juros baixos, safra recorde, aumento do valor do beneficio do Bolsa Família e a retomada do crescimento, após uma recessão de dois anos sem precedente no país, números que devem ser registrados hoje na comemoração dos dois anos de governo. Mas Alckmin não quer aparecer do lado de Temer e ser contagiado por seus baixos índices de popularidade.
O que o PSDB e Alckmin não parecem aceitar é que o ex-governador talvez também seja hoje vítima da mesma rejeição aos políticos e à política que atingem Temer. Numa época em que se atira pedras na política, não deixa de merecer registro que a política - e não só Fazenda e Banco Central - é que tirou o país da pior recessão de sua história. O centro precisa fazer ainda muita política para mostrar que é o porto seguro depois da tempestade.
Operação Netflix
Apesar de acreditar que seus problemas vão acabar quando começar o horário eleitoral gratuito - ele aposta firmemente na TV -, Geraldo Alckmin decidiu investir na "geração Netflix" na campanha. O candidato levou para cuidar das redes sociais o marqueteiro Marcelo Vitorino, vitorioso com Marcelo Crivella no Rio, que já fixou os quatro pilares da campanha: arrecadação, combate às fake news, produção de conteúdo segmentado e mobilização da militância. De olho na última eleição presidencial americana e nos altos níveis de abstenção verificados nas pesquisas, o PSDB quer fazer uma campanha para tirar o eleitor de casa para votar. A equipe das redes sociais deve ser de 50 pessoas, contra 130 de José Serra (2010) e 200 de Aécio Neves (2014).
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