O pré-candidato tucano à Presidência da República, Geraldo Alckmin, é presidente do PSDB e um dos quadros mais antigos do partido. Apesar disso, contrariou a posição histórica e programática do PSDB a favor da reforma trabalhista – na qual o partido votou em peso, em parte sob orientação do próprio ex-governador paulista – e assumiu o compromisso de apoiar a criação de uma “contribuição sindical negocial”, nome fantasia para o imposto sindical hoje felizmente extinto com a ajuda decisiva dos tucanos.
O compromisso de Alckmin foi resultado da pressão do deputado Paulinho da Força, dono do partido Solidariedade e um dos expoentes do sindicalismo que prosperou à sombra de favores estatais, entre os quais a delegação para cobrar dos trabalhadores um imposto para sustentar a máquina sindical e a boa vida de seus líderes – um legado do Estado Novo varguista que só agora foi eliminado.
O Solidariedade é um dos partidos que dizem integrar o chamado “centrão”, grupo de agremiações pequenas e médias que se juntam sempre que precisam de mais força para barganhar favores, cargos e verbas com o governante de turno – seja de direita, de esquerda ou de centro. A despeito desse perfil escancaradamente fisiológico, o apoio do “centrão” vinha sendo disputado por quase todos os candidatos, pois o bloco detém considerável tempo de propaganda eleitoral, trunfo ao qual se atribui grande peso numa campanha que promete ser muito acirrada e cujos candidatos dispõem de financiamento limitado. Na semana passada, esse condomínio partidário, hoje constituído por DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade, decidiu, por razões ainda obscuras, dar seu apoio a Geraldo Alckmin.
Assim que esse apoio foi anunciado, surgiram especulações sobre a disposição do deputado Paulinho da Força de cobrar de Alckmin a volta do imposto sindical, como precondição para dividir o palanque com o tucano. Para que esses rumores não prosperassem, já que o PSDB sempre foi contra o imposto sindical, o perfil de Alckmin no Twitter tratou de negar essa possibilidade: “Ao contrário do que está circulando nas redes, não vamos revogar nenhum dos principais pontos da reforma trabalhista. Não há plano de trazer de volta a contribuição sindical”.
Ato contínuo, o deputado Paulinho da Força, fiel a seu estilo, tratou de chantagear Alckmin, ameaçando levar seus segundos de propaganda eleitoral para os lados da candidatura de Ciro Gomes – que já prometeu revogar a reforma trabalhista, classificando-a de “porcaria”. Em vez de sustentar sua posição a respeito dessa reforma, expressa, antes de tudo, na própria história do PSDB, o ex-governador paulista preferiu atribuir a publicação em seu nome no Twitter a uma “trapalhada de assessores”. Em seguida, reuniu-se com Paulinho da Força e não desmentiu o deputado quando este publicou no Facebook que já há até um modelo de contribuição sindical acertado com o candidato tucano.
Com apenas um dígito nas pesquisas de intenção de voto, Geraldo Alckmin parece apostar todas as suas fichas no generoso tempo de propaganda eleitoral que terá a partir da composição com o “centrão” de Paulinho da Força et caterva – grupo que inclui o mensaleiro e ex-presidiário Valdemar Costa Neto, dono do PR, e Ciro Nogueira, senhor do PP, o partido cujo grande legado é a coautoria do petrolão.
É certo que, em política, é preciso ser pragmático, mas há situações para as quais nenhuma justificativa jamais será boa o suficiente, como é o caso da submissão de Alckmin ao deputado Paulinho da Força, sacrificando as convicções tucanas no altar do mais desbragado oportunismo.
Dilma Rousseff, de infausta memória, disse certa vez que, em campanha, “a gente faz o diabo”. Foi das poucas frases da presidente cassada que não necessitam de tradução para o português. Em linguagem meridiana, a petista lembrou que seu partido nunca ligou para ética, lisura ou respeito pela democracia quando se trata de ganhar eleição. Pelo jeito, não foram só os petistas que perderam a vergonha de abraçar publicamente o coisa-ruim para chegar lá.
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