- O Globo
É sintomático que nenhum candidato tenha escolhido um vice até agora. É sintomático desses tempos interessantes que vivemos no país, no sentido da maldição chinesa de instabilidade e caos, que nenhum candidato tenha escolhido até agora um vice. Se é verdade que vice não ganha eleição, ajuda a governar, como foi o caso de Marco Maciel, do PFL, nas gestões de Fernando Henrique, ou sinaliza uma tendência, como a escolha de José de Alencar nos governos de Lula. Ou até mesmo de Temer nos governos Dilma.
Oque os candidatos estão buscando, nesse nosso presidencialismo de cooptação, é tempo de televisão e a chamada governabilidade, que tantos escândalos já justificou. O mais bem-sucedido até o momento, pelo menos aparentemente, é Geraldo Alckmin, do PSDB, que está para anunciar um acordo político com o chamado centrão.
Na sua forma embrionária e não tão tóxica, o centrão já foi de Fernando Henrique, e depois de Lula e de Dilma, gerando o mensalão e o petrolão. Todos os demais candidatos estão isolados em suas posições, para o bem e para o mal.
O PT não abre mão de dominar o espaço da esquerda e quer esticar a corda ao máximo, na tentativa de colocar a foto de Lula na urna eletrônica. Tudo indica que não conseguirá, e o projeto pessoal de Lula deve inviabilizar a união dos partidos de esquerda, que, se não têm muitos votos, reforçariam o sentido ideológico de uma candidatura única.
Assim como controlou a esquerda engolindo Leonel Brizola, depois de vencê-lo em 1989 e fazê-lo seu vice em 1998, Lula não aceita apoiar Ciro Gomes, do PDT, o mais bem colocado candidato identificado com a esquerda. E tenta manter outros partidos menores, como o PCdoB e o PSOL, sob sua asa. Mesmo com candidatos próprios, esses partidos não oferecem perigo à hegemonia do PT.
Quanto mais demorar a indicar um substituto, menos eficácia terá na transposição de votos para ele. E talvez seja a estratégia oculta do PT perder a eleição e liderar a oposição. Mas só com a vitória de um aliado, Lula tem chances de sair da cadeia.
Por sua vez, Ciro Gomes foi de um lado a outro na tentativa de ganhar o apoio de Lula, ora elogiando o líder petista, ora criticando-o. E buscou com afinco o apoio do mesmo centrão que está em vias de apoiar Alckmin. Foi mal sucedido nos dois casos, e agora busca o apoio da Rede, de Marina Silva, que aparece nas pesquisas à sua frente.
Apesar desse seu bom desempenho, Marina também não conseguiu até agora uma aliança política que lhe oferecesse coerência, além do tempo de televisão. Rejeitou o centrão desde o primeiro momento. Provavelmente vai dar a Ciro uma negativa educada: se ele aceitar o programa da Rede, poderia ser o seu vice.
O líder das pesquisas quando Lula não está, Jair Bolsonaro, também encontra dificuldades para aumentar sua exposição na propaganda eleitoral: Dois nomes de militares de outros partidos foram aventados e inviabilizados nas negociações políticas, e a advogada Janaína Paschoal, tentada pela possibilidade, acabou inviabilizando sua própria indicação ao realizar um discurso crítico na convenção que indicou Bolsaro oficialmente a candidato à Presidência da República. Tudo indica que fez o sincericídio de caso pensado.
De todos os demais candidatos, apenas o ex-tucano Álvaro Dias tem alguma, embora escassa, possibilidade de ser bem sucedido. Mas o que lhe restou de apoio são nanicos que podem lhe dar um pouco mais de tempo de televisão e vices exóticos, como os eternos candidatos Emayel ou Levy Fidelix.
Como se vê, a dois meses e meio das eleições, o cenário político continua confuso, sendo impossível saber neste momento o que vai prevalecer, se os esquemas da velha política, baseados em estruturas partidárias enraizadas pelo país e tempo de televisão, ou a necessidade de renovação que aparece em todas as pesquisas, mas não nas eleitorais.
Lula, na cadeia, continua sendo o líder das pesquisas, e Bolsonaro, Marina e Ciro Gomes são os preferidos até agora. Desses, apenas Marina, embora política tarimbada em sucessivos mandatos, representa uma novidade na maneira de encarar a política, mas foi destruída pela máquina partidária do PT e do PSDB na eleição de 2014.
Bolsonaro e Ciro Gomes são políticos tarimbados e, cada um a sua maneira, representa a velha política. Desde a busca de alianças mesmo à custa da coerência, até a tão conhecida política familiar.
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