Por Isadora Peron | Valor Econômico
BRASÍLIA - Às vésperas de formalizar a sua terceira candidatura à Presidência da República, Marina Silva (Rede) divulgou que suspendeu as atividades do instituto que leva o seu nome por dificuldades financeiras. Entre 2012 e 2017, a organização recebeu cerca de R$ 5,5 milhões em doações.
O balanço financeiro da entidade foi publicado ontem no site da pré-candidata, após o Valor insistir por mais de um mês para ter acesso aos dados. A relação de doadores, no entanto, permanece em sigilo.
Por se tratar de uma associação privada, essas informações não precisam, necessariamente, ser divulgadas. O estatuto social da organização, no entanto, previa que, "pelo princípio da publicidade", as demonstrações financeiras seriam colocadas todo ano "à disposição para o exame de qualquer cidadão".
A decisão de suspender as atividades do Instituto Marina Silva foi tomada em assembleia em maio do ano passado "devido às dificuldades de captação de recursos no contexto da grave crise econômica e social do país".
A ata da reunião registrada em cartório afirmava que "a captação de recursos para o exercício do ano de 2017 foi reduzida em 50% em relação ao ano de 2015" e que os recursos "só permitiriam o funcionamento do Instituto até junho de 2017".
A organização ainda funcionou até outubro, e registrou no ano passado um déficit de mais de R$ 52 mil. Todos os quatro funcionários foram demitidos e os demais contratos, encerrados.
As dificuldades financeiras do instituto coincidem com o momento em que a herdeira do banco Itaú Neca Setúbal se afastou do grupo de Marina. Em 2013, por exemplo, Neca fez uma doação de quase R$ 1 milhão, o que correspondeu a 83% de todo o faturamento da entidade no ano.
Depois de coordenar o programa de governo de Marina em 2014, Neca se distanciou da presidenciável. À reportagem, a educadora disse não lembrar quando fez a última doação para a organização e reafirmou que não vai ser envolver na campanha da antiga aliada este ano.
O instituto foi criado por Marina em fevereiro de 2011, logo após ela ser derrotada nas eleições presidenciais de 2010 e ficar sem cargo público. A organização tinha como objetivo desenvolver projetos na área de sustentabilidade, organizar o acervo da vida política da ex-senadora e gerenciar as palestras que ela daria gratuitamente. Segundo as informações divulgadas, até o ano passado, Marina proferiu 344 palestras presenciais e fez 101 participações por vídeos.
Para gerenciar as palestras remuneradas, apontadas como uma de suas fontes de renda, Marina criou uma outra empresa, também em 2011. Com sede em Brasília, a companhia de pequeno porte foi registrada com um capital de R$ 5 mil e batizada de M. O. M. da S. V., que representa as iniciais do nome completo da pré-candidata: Maria Osmarina Marina da Silva Vaz de Lima.
O Valor também pediu para ter acesso à arrecadação dessa empresa, mas os dados não foram divulgados pela assessoria do Rede. Segundo a coordenadora da pré-campanha de Marina, Andrea Gouvêa Vieira, o levantamento desses dados requer tempo e não são "prioridade" da equipe da presidenciável neste momento. Ela afirmou que, em uma data oportuna, essas informações serão disponibilizadas.
Nas eleições de 2014, Marina declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter um patrimônio de R$ 181 mil. Além da empresa M. O. M. da S. V., a ex-senadora disse possuir cerca de R$ 28 mil em uma conta corrente, dinheiro em aplicações financeiras na ordem de R$ 30 mil e uma poupança de R$ 15 mil. Também registrou ser proprietária de um imóvel e seis lotes no Acre, seu Estado natal.
Desde abril deste ano, Marina recebe um salário bruto de R$ 12 mil do Rede. O partido afirma que o pagamento está sendo realizado para que a ex-ministra possa se dedicar exclusivamente à campanha.
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