Por Carla Araújo e Andrea Jubé | Valor Econômico
BRASÍLIA- O ministro-chefe da Casa Civil e vice-presidente do MDB, Eliseu Padilha, afirmou ao Valor que são grandes as chances de um dos candidatos do chamado "centro" à Presidência da República disputar o segundo turno da eleição contra um postulante do PT. Será uma "anomalia" se o adversário do PT na reta final for o deputado Jair Bolsonaro (PSL), diz um dos homens de confiança do presidente Michel Temer. Ele afirma que Meirelles pode ser o nome do "centro".
Padilha diz que Temer orientou o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, a fornecer informações da área econômica aos coordenadores financeiros dos pré-candidatos à sucessão para que, na campanha, possam apresentar propostas condizentes com a saúde fiscal do país.
O ministro afirma que há "grandes chances do PT ter um candidato deles no segundo turno, e subir algum do centro" para a outra vaga. "Isso é que é o normal, a anomalia é se nós tivermos o [Jair] Bolsonaro no segundo turno junto com PT".
Padilha admite que, mesmo preso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - que é pré-candidato do PT ao Planalto -, ainda exerce uma influência eleitoral "muito grande". Lula está preso há mais de 100 dias em Curitiba, mas é líder nas pesquisas de intenção de votos, enquanto Bolsonaro vem em segundo.
Mas Padilha acredita que Bolsonaro vai "desidratar" ao longo da campanha pelo exíguo tempo de propaganda no rádio e na televisão, e porque o brasileiro tem a tradição de optar por um candidato de centro. Na hipótese de Meirelles ou Alckmin ocuparem uma das vagas do segundo turno, ele classifica como "possível" uma aliança entre MDB e PSDB. "Eu quero que chegue o Meirelles e não o Bolsonaro. Se o Bolsonaro desidratar, alguém do centro vai ocupar esse espaço", afirma. "O Brasil tem historicamente feito um candidato de centro chegar [ao segundo turno], e agora tem tudo para que isso aconteça de novo".
Padilha descarta qualquer recuo do MDB e reafirma a pré-candidatura de Henrique Meirelles, que será formalizada na convenção nacional do partido no dia 2 de agosto. Ele diz que Meirelles terá pelo menos 450 votos dos cerca de 600 convencionais da legenda. Meirelles enfrenta oposição na sigla apenas dos diretórios de Alagoas e Ceará.
O ministro afirma que o discurso "mais propositivo" entre os pré-candidatos é o de Meirelles, porque ele foi "comandante da economia, tem experiência nacional e internacional, é um expert em mercado, foi presidente de uma grande instituição financeira nos EUA".
Padilha relativiza o apoio dos partidos do Centrão (PP, PR, DEM, PRB, SD) ao pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin porque o apoio oficial dos partidos não corresponde à transferência de votos. "O apoio de determinada sigla pode não representar muito em termos de manifestação popular. Às vezes, com esse apoio, você pensa que a sigla por si possa arrastar seus filiados, simpatizantes e a população em geral, mas a experiência não é essa, a proporção não é igual".
Padilha reconhece que, com o apoio do Centrão, Alckmin terá a vantagem do maior tempo de televisão, mas ressalta que Meirelles terá o segundo maior tempo de propaganda individual entre os candidatos, equivalente a 1 minuto e 40 segundos.
"A televisão ainda é um grande instrumento de propaganda, mas nós temos um bom tempo, e dará para Meirelles apresentar perfeitamente suas ideias". Enfrentando a reprovação de 79% da população segundo a última pesquisa CNI/Ibope, Temer pretende dedicar o exercício da presidência, durante a campanha, à "pacificação nacional". Ele não vai subir em palanques, porque a base eleitoral ampla suscita conflitos em muitos Estados, diz o ministro. Se subir em algum deles, será ao lado de Meirelles.
Padilha diz que o MDB deve voltar "com a maior bancada de novo" na Câmara dos Deputados, mas ressalta que, neste pleito, dada a pluralidade de legendas, deverão ser eleitos entre 47 e 55 deputados. "Não vamos ter mais uma bancada de 70 deputados como no passado", admite.
O ministro afirma que a candidatura própria de Meirelles, garantindo espaço para o número 15 do MDB diariamente no rádio e na televisão, contribuirá para eleger deputados, senadores e governadores. Prevê que o PMDB tem chance de eleger governadores em pelo menos sete Estados: São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Alagoas, Pará, Maranhão e Mato Grosso do Sul.
"Embora tenham prendido nosso candidato, ele é o favorito", ressalva, sobre o pré-candidato ao governo do Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, preso no último dia 20 pela Polícia Federal em Campo Grande.
Sobre as reuniões da equipe econômica com os coordenadores financeiros dos pré-candidatos à Presidência, Padilha disse que elas servem para mostrar que o governo "está aberto a prestar todas as informações". Segundo Padilha, não se discute a "transição" neste momento no governo. O objetivo das reuniões da equipe econômica com coordenadores dos pré-candidatos era subsidiá-los com informações para que os postulantes tomem posições coerentes com a realidade dos números. "Se um candidato disser uma coisa na campanha completamente fora da perspectiva real, não será por falta de informação", adianta.
Ele alerta que apesar dos esforços de Meirelles e sua equipe, o sucessor de Temer ainda herdará um país com uma frágil situação fiscal. "Viemos sofrendo de 2016 para cá um aperto na capacidade de investimentos, e esse aperto vai perdurar no ano que vem, a tendência é apertar ainda mais de 2018 para 2019".
Padilha argumenta que nos próximos seis meses as prioridades do governo são a aprovação no Congresso do projeto da venda das subsidiárias da Eletrobrás, e a proposta sobre a cessão onerosa.
O ministro admite um recuo no crescimento da economia, que atribui ao fracasso na tentativa de votação da reforma da Previdência Social. Mas ressalta que ainda assim, o país terá um PIB positivo relativo a 2018, estimado em 1,6%. Ele atribui este cenário às denúncias da Procuradoria Geral da República que ameaçaram o mandato de Temer no ano passado.
Padilha e Temer respondem a um inquérito em curso no Supremo Tribunal Federal sobre suposto caixa dois pago ao MDB na campanha de 2014 pela Odebrecht. Mesmo assim, o ministro diz que não receia perder o foro privilegiado ao final do governo, caso não seja convidado a participar da gestão do sucessor. "Cada um vai cuidar da sua defesa", diz, sobre o futuro dele e de Michel Temer após o fim do governo. "No que diz respeito a mim, vou cuidar disso com tranquilidade, enquanto a gente tem que se defender, tem que se defender". Sobre Temer, Padilha diz que ele também tem demonstrado "ampla tranquilidade".
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