terça-feira, 24 de julho de 2018

Marina: ‘condomínio de Alckmin é o mesmo de Dilma’

Em evento no interior de SP, pré-candidata não descarta encontrar seu vice entre ‘pratas da casa’

Dimitrius Dantas | O Globo

-PIRACICABA (SP)- Ainda sem apoio de nenhum partido, a pré-candidata da Rede à Presidência, Marina Silva, decidiu atacar o adversário Geraldo Alckmin (PSDB) e os partidos do centrão que decidiram apoiá-lo. Num tom acima de como usualmente responde sobre a dificuldade de alianças, Marina associou o tucano ao PT por causa de sua atual proximidade com siglas antes aliadas à campanha de Dilma Rousseff.

— O condomínio do Alckmin é o condomínio que era da Dilma em 2014. Fizeram (o centrão) um serviço com a Dilma e o Temer. E agora acharam um novo condomínio para chamar de seu — disse ela, durante sua passagem por Piracicaba, no interior de São Paulo, após encontro numa chácara com cerca de 20 filiados da Rede.

Nas últimas semanas, o grupo de Marina trabalhou para atrair algum partido que lhe garantisse mais do que os 12 segundos aos quais a Rede tem direito. No entanto, tanto o PV quanto o PPS não devem se aliar à pré-candidata.

Marina Silva, no entanto, deve contar com apoios isolados nesses partidos. Na convenção estadual do diretório paulista do PV, feita no último sábado, Eduardo Jorge, candidato a presidente em 2014, anunciou que irá apoiá-la. No PPS, o senador Cristovam Buarque (DF) é visto como um dos defensores da ex-senadora.

A pré-candidata admitiu os problemas na costura de alianças e atribuiu as dificuldades à exigência que a Rede faz com os partidos de que seja feito um acordo programático. A convenção nacional da sigla, que irá indicar Marina como a candidata à Presidência, acontecerá no próximo dia 4 de agosto.

A tendência é que o vice seja também da Rede, mas não deve ser anunciado no mesmo dia. Um dos cotados é o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello. Pessoas próximas a ele afirmam que o flamenguista está disposto a cumprir o papel “que Marina mandar”.

— Temos excelentes pratas da casa. Ou ouros da casa — brincou a ex-senadora.

Além da pequena estrutura em comparação com os adversários, Marina também terá menos dinheiro. Aos simpatizantes do partido, ela brincou ao pedir doações de roupas para sua campanha. A ambientalista costura suas próprias mantas e também faz alguns dos acessórios que usa. A Rede planeja destinar R$ 5 milhões do seu fundo eleitoral de R$ 10 milhões para a campanha à Presidência.

Na última semana, a presidenciável lançou sua campanha de financiamento coletivo. A plataforma foi feita com a consultoria da empresa Bando, que fez o mesmo trabalho na campanha de Marcelo Freixo em 2016 à Prefeitura do Rio.

Assim como ele, Marina adotou uma estratégia de metas ao pedir doações. No último domingo, a primeira meta — a de garantir recursos para as viagens pelo país — foi alcançada com R$ 100 mil em doações. Os próximos R$ 100 mil serão destinados para a produção de vídeos e materiais gráficos.

GATOS, GRILOS E PAÇOCA
Após o encontro com os colaboradores, Marina participou de outro evento em uma paróquia de Piracicaba. A região é um dos núcleos em que o partido espera eleger um deputado federal, Zé Gustavo, um dos aliados mais próximos da pré-candidata. A Rede é um dos partidos que correm perigo com a cláusula de barreira e precisa eleger ao menos nove deputados federais em nove estados diferentes.

Apesar dos problemas, Marina admitiu que conversa com outros pré-candidatos, mas destacou que o diálogo não inclui que nenhum deles abra mão de suas campanhas. Entre os citados, a ambientalista afirmou que já conversou com Ciro Gomes (PDT) e Álvaro Dias (Podemos). Segundo ela, as conversas não precisam ser feitas apenas após a eleição, sobretudo entre as lideranças que não foram “pegas no doping” da Operação Lava-Jato:

— Temos conversado. O que não significa que alguém tenha que desistir de seus projetos.

Sempre que possível, Marina repete que deseja fazer uma campanha franciscana. Ontem, na passagem por Piracicaba, fez jus à promessa: o evento político foi na casa de um colaborador, uma chácara permeada com sons de grilos, uma mesa típica do interior com paçoca e biscoitos, além de gatos passeando entre as cadeiras, inclusive a que a candidata se sentou, enquanto falava com jornalistas.

Quando chegou ao evento, Marina recebeu um helicóptero feito apenas com material reciclável. Ao pegar o presente na mão, brincou que ele serviria para “subir nas pesquisas”, simulando uma decolagem com o brinquedo.

A ex-senadora ocupa a segunda colocação nos levantamentos feitos sem a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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