terça-feira, 24 de julho de 2018

Josué só se decidirá após falar com petista

Cotado para ser o vice na chapa do presidenciável Geraldo Alckmin, com quem se encontrou ontem, o empresário Josué Gomes conversará hoje com o governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), antes de se decidir. Ligado ao ex-presidente Lula, Josué se filiou ao PR, que agora apoia Alckmin.

‘Plano Josué’ pauta chapa de Alckmin

Em encontro com tucano, empresário condiciona decisão sobre vice a uma consulta a governador do PT

Bruno Góes, Cristiane Jungblut | O Globo

-BRASÍLIA- As negociações que envolvem a aliança entre o pré-candidato do PSDB a presidente, Geraldo Alckmin, e o bloco de partidos do centrão (DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade) tiveram ontem mais um episódio. Cotado para a vice, o empresário Josué Gomes da Silva (PR) condicionou sua decisão de compor com o PSDB a uma conversa com o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, que é do PT. No encontro com Alckmin, o empresário elogiou o tucano, mas deixou o caminho livre para que o PSDB e o bloco de partidos escolhessem outro nome para a vice. O comportamento de Josué foi interpretado pelos líderes partidários como um movimento para valorizar sua decisão e também garantir um distanciamento amigável do PT.

Josué construiu sua carreira política nos últimos anos no entorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o responsável por sua filiação ao PR, partido de Valdemar Costa Neto. A prisão do líder petista, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, e a indefinição do projeto eleitoral do PT acabaram levando o partido de Valdemar a compor com os partidos do centrão e, consequentemente, com Alckmin. O rumo inesperado das negociações, que fez o empresário sair do campo petista para compor com os adversários históricos do partido de Lula, deve ser assunto na conversa que Josué pretende ter hoje com Fernando Pimentel. Para o líder do PR, deputado José Rocha (BA), a conversa com o governador petista será uma espécie de última jogada do PT para evitar que o empresário se alie ao ex-governador de São Paulo.

— Nesta reunião, com certeza, o Pimentel vai levar um recado do Lula ao Josué — disse Rocha.

Nascido em uma das mais tradicionais famílias de Minas Gerais, Josué, filho do ex-vice-presidente José Alencar, é visto pelos tucanos como um nome que poderia aproximar a candidatura de Alckmin do eleitorado mineiro, produzindo a tradicional chapa “café com leite”. Herdeiro de um império empresarial, o grupo Coteminas, Josué também garantiria um acesso melhor à candidatura tucana entre o PIB nacional. Por ser filho do companheiro de governo do ex-presidente Lula durante os dois mandatos do petista, Josué também ajudaria a reduzir potenciais ataques do PT ao tucano.

CHEFE DO PR MONTA FORÇA-TAREFA
Por todos esses fatores, os líderes do centrão tentarão pressionar o empresário a aceitar a missão de representar o bloco na chapa do tucano. Para garantir que Josué diga sim, Valdemar Costa Neto pediu ontem que todos os líderes dos partidos telefonassem para o empresário.

— O Valdemar pediu para a gente sensibilizar o Josué a aceitar ser vice na chapa — disse um dirigente do centrão.

Na conversa com Alckmin, o empresário foi modesto. Disse que não tinha um peso eleitoral grande para ser considerado tão importante em uma coligação. Então, sugeriu que outro nome pudesse ser indicado à chapa. Josué também ponderou que a família tinha certa resistência à ideia.

O GLOBO revelou ontem os resultados de uma pesquisa do PR para medir o potencial eleitoral de Josué. O resultado foi decepcionante, pois chegou-se à conclusão que “não foi possível avaliar a imagem do pré-candidato”, dado “o total desconhecimento, tanto do nome quanto da fisionomia” de Josué.

A aliança de Alckmin com os partidos do bloco foi acordada na última quinta-feira. Com a entrada do PR, que desistiu de apoiar Jair Bolsonaro (PSL), no grupo houve um movimento para consolidar o apoio a Alckmin, mesmo em um momento em que PP e Solidariedade preferiam apoiar Ciro Gomes (PDT). O acordo, para esses partidos, passou pela rediscussão de um financiamento de sindicatos e espaços no governo.

Com todos os partidos atraídos pela aliança, Alckmin terá, no mínimo, 4 minutos e 46 segundos dos 12 minutos e 30 segundos da propaganda eleitoral na televisão. Na próxima quinta-feira, se tudo correr como o planejado, os caciques do bloco e o próprio Alckmin farão um evento para anunciar a grande aliança. A decisão de Josué é considerada fundamental para o desfecho desse encontro.

Caso Josué decida ser vice de Alckmin, o anúncio deve ser formalizado na quinta-feira. Valdemar avisou aos líderes do centrão que o martelo ainda não foi batido. Na reunião com o tucano, Josué chegou a indicar que “não teria muitos votos” para ajudar a candidatura, mas disse que torcia por Alckmin na corrida eleitoral.

— Não haverá divisão dos partidos — disse um dos comandantes do centrão.

A TAREFA DO PT
O PT tentará, no entanto, atrapalhar os planos do tucano. No mês passado, a presidente nacional do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), foi até o empresário para pedir que ele aceitasse compor uma chapa com o PT. O ex-governador da Bahia Jaques Wagner, e o governador do Piauí, Wellington Dias, também assediaram Valdemar para tentar fechar uma aliança.

Com Lula preso, porém, Valdemar avalia que seria loucura participar de uma eleição com um candidato que deve ser barrado na Lei da Ficha Limpa.

No domingo, Geraldo Alckmin manifestou a interlocutores estar animado com a conclusão do acordo com o centrão e com o empresário. Os aliados do tucano apostam no fechamento da chapa, mas não deixam de mostrar preocupação.

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