Projeções que levam economia a voltar ao nível de 2014 apenas em 2020 aumentam responsabilidade do novo governo em escolher a política econômica correta
A greve dos caminhoneiros, no final de maio, teve impacto direto nos preços, tanto que as expectativas de inflação dos analistas do mercado, consolidadas no Relatório Focus, editado pelo Banco Central, passaram a apontar para algo acima de 4%, este ano, embora abaixo do centro da meta (4,5%). Apostas mais otimistas, na faixa dos 3%, ficaram para trás.
O movimento grevista serviu para ajudar a degradar ainda mais o humor de agentes econômicos diante de 2019, até porque as incertezas eleitorais continuam elevadas. São vários os ingredientes que tornam empresários e consumidores retraídos.
Estudo da economista Silvia Matos, da Fundação Getulio Vargas, ilustra bem este momento de relativo pessimismo, ao concluir que a retomada do crescimento, iniciada no começo de 2017, levará longos 16 trimestres, ou quatro anos, até colocar o PIB de volta ao nível anterior à crise, em 2014. Só, então, em 2020.
Esta lentidão será inédita, porque o Brasil costumava ter uma velocidade relativamente alta na recuperação de recessões. Mas também não se pode desconsiderar que a retração no biênio 2015/16 (acima de 7%) nunca antes havia sido registrada.
A seriedade da situação vai além do mero ineditismo e acrescenta uma razoável dosagem de dificuldades para o próximo governo.
A economista autora do estudo, divulgado pelo GLOBO, chama a atenção para o fato de que recessões longas e baixo crescimento danificam o sistema produtivo, tornando-o menos capaz de gerar expansão econômica.
A mão de obra perde adestramento, devido ao tempo fora do mercado de trabalho, e a queda dos investimentos reduz a capacidade produtiva. Silvia Matos calcula que o PIB potencial brasileiro — a capacidade de crescer sem gerar pressões inflacionárias — está em 1,5%, quando já foi de 4%.
Isso torna mais desafiadora a missão do próximo governo e reduz sua margem de erro. Terá de ser ainda mais certeiro nas escolhas de política econômica.
Não poderá ser dúbio, por exemplo, diante da grave questão fiscal. Déficits nas contas públicas vêm sendo acumulados desde 2014, histórico que precisa ser interrompido logo.
É compreensível, portanto, que os mercados se tornem cada vez mais sensíveis a opiniões de candidatos sobre a crise fiscal e às diversas medidas que precisam ser tomadas, pelo Executivo, e aprovadas no Legislativo, a fim de que os problemas sejam equacionados, para o Brasil entrar numa trajetória de recuperação em bases sólidas, sem ilusionismos. No primeiro lugar da lista está a reforma da Previdência.
A responsabilidade do novo governo e Congresso é proporcional ao tamanho do contingente de desempregados, de 13,2 milhões de pessoas.
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