- Valor Econômico
"Temos condições de ganhar a eleição com chapa pura"
Dos grandes partidos, falta só definir o candidato do MDB e o avatar de Lula nas eleições de outubro. Fernando Haddad parece o preferido do ex-presidente, mas chama a atenção que o ex-presidente da Petrobras Sergio Gabrielli, nome da copa e cozinha de Jaques Wagner, seja o escolhido para coordenar a campanha do PT. A outra definição é a de Henrique Meirelles, um candidato improvável que parecia fadado a ser engolido pela máquina do MDB mas acabou por assimilar rapidamente os maneirismos da política
A candidatura Meirelles foi inventada no Planalto, depois que fez água o projeto de reeleição do presidente Michel Temer. Mas ontem o ex-ministro da Fazenda esteve no Paraná, onde desde sempre o senador Roberto Requião controla o MDB, em geral na oposição ao comando partidário. O anfitrião foi um sobrinho de Requião, o deputado João Arruda: "A gente fala de chamar o Meirelles. Eu chamei o Meirelles aqui. Porque ele tem credibilidade, seriedade e moderação", avalizou.
A convergência da situação com a oposição, no Paraná, não significa dizer que Meirelles está 100% certo na convenção. Mas está perto. Recentemente, Meirelles passou em revista os votos dos delegados com Eliseu Padilha, ministro da Casa Civil especialista na contabilidade de votos do MDB; Padilha previu que Meirelles terá algo em torno de 450 dos 629 votos dos delegados (ao todo são 443 convencionais, vários deles com direito a mais de um voto).
O MDB fez um esforço muito grande para não chegar na hora agá sem homologar a candidatura de Henrique Meirelles no dia 2. Por exemplo: acaba de alugar uma casa no Lago Sul, bairro nobre de Brasília, para sediar o comitê eleitoral do candidato. A campanha não tem apenas um, mas dois marqueteiros tratando da imagem do ex-ministro da Fazenda de Temer. Também tem uma equipe de comunicação completa. Uma estrutura financiada pelo candidato, homem de posses, o que só alivia as finanças do partido para os objetivos de eleger o maior número de governadores e a maior bancada de deputados federais.
O problema de Meirelles hoje parece ser o de viabilizar sua candidatura, no primeiro momento, e não virar uma espécie de linha auxiliar do pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, na sequência, o que ele acha improvável. O próprio Meirelles aponta as diferenças entre um e outro: "Eu tenho resultados concretos para apresentar, não é só declaração de princípios". Sua candidatura também sofre resistências internas no MDB, boa parte das seções regionais do partido prefeririam ficar "soltas" para costurar as melhores alianças locais. E o pré-candidato, até agora, está isolado - um minuto e trinta e seis segundo de tempo de TV ante cinco minutos e trinta e seis segundos de Geraldo Alckmin, se a coligação do PSDB com todo o Centrão for efetivada.
O pré-candidato rechaça a possibilidade de o MDB vir a compor com o pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, conforme chegou a ser noticiado no fim de semana. "Ele não me procurou", disse. Mas se tivesse procurado, afirma taxativamente: "Não existe essa possibilidade". Segundo Meirelles, a grande maioria do MDB já decidiu pela candidatura própria, em prévia coordenada pelo presidente do partido, Romero Jucá. O pré-candidato já visitou a maioria dos Estados, manteve contato direto com as principais seções eleitorais do MDB. É o que explica sua confiança na vitória na convenção, uma disputa na qual não tem adversário.
"O que eu verifico é um apoio enorme. Tem uma grande maioria que já declarou apoio e se comprometeu. Estou recebendo grande número de manifestações de apoio integral", afirma Meirelles. O ex-ministro também é um cliente assíduo das pesquisas qualitativas. "Há uma grande diferença entre aqueles que não tem informação alguma sobre minha trajetória e aqueles que têm alguma informação a meu respeito - essas pessoas manifestam intenção de voto muito elevada na minha candidatura. É fato inquestionável que minha carreira não tem problemas. Estou confiante que vamos ter um bom resultado, não só na convenção como também na eleição".
A exemplo de Geraldo Alckmin, o ex-ministro da Fazenda aposta suas fichas no horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão. Também ainda não desistiu de alianças com outros partidos para dar mais tempo de TV, densidade e um candidato a vice da chapa que saísse de fora do MDB. As conversas estão sendo conduzidas em segredo, mas Meirelles não esconde que o nome possa sair de um dos partidos havidos como comprometidos com outras agremiações. Se não for possível, o MDB vai mesmo de chapa puro sangue.
"Estamos em conversa com outros partidos", diz. Meirelles avalia que os partidos definiram-se "em princípio", mas ainda muita água vai correr antes de os martelos serem batidos. "São grupos e partidos muito diversos", afirma. "Mas estamos preparados para ir de chapa pura, e o MDB tem uma estrutura que é maior que os outros partidos somados, e tempo de TV para fazer uma candidatura vencedora. Temos condições de ganhar com chapa pura". Meirelles aposta que os partidos fizeram uma espécie de "verticalização branca" sem efeito eleitoral.
Se for confirmado candidato do MDB, Meirelles deve se preparar para as cascas de banana colocadas em seu caminho pelo próprio partido. Um bom exemplo são as propostas do secretário-geral da Presidência, Carlos Marun, para o programa de governo de Meirelles: criação de uma corte acima do Supremo Tribunal Federal (STF), anistia ao caixa 2 e a cobrança de um valor mínimo para atendimento da população na rede do Sistema Único de Saúde (SUS).
"Se houver debate, é assunto do Congresso", esquivou-se. O presidente do MDB, Romero Jucá disse que Marun falava em nome pessoal. O programa do MDB é o que está escrito no documento "Travessia para o Futuro", espécie de sequência da "Ponte para o Futuro", que balizou o governo de Michel Temer. Mas é certo que não há conversa de candidato que não trate da situação dos investigados, condenados e presos na Lava-Jato. Por iniciativa própria ou demanda dos interessados no assunto.
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