Referências da democracia liberal, Merkel e Macron experimentam desgaste no ano
O abalo da política tradicional, evidenciado a partir de 2016 pela ascensão de nomes e grupos populistas e pelo plebiscito que selou o “brexit”, teve sequência neste ano com a deterioração do prestígio de quem até outrora era tido como exemplo de liderança democrática, deixando dúvida sobre quais são as aspirações do eleitorado.
Esse fenômeno se reflete na queda de popularidade dos dois líderes europeus de maior relevância.
Emmanuel Macron, alçado à Presidência da França em 2017 por um movimento que inspirou renovação política e foi imitado em outros cantos, perdeu dez pontos de sua aprovação de outubro a dezembro, segundo o instituto Ifop, e chegou a seu pior patamar, 23%.
A alemã Angela Merkel, à frente do governo desde 2005 —época em que o mundo não imaginava que experimentaria em breve sua crise financeira mais grave em oito décadas—, perdeu seis pontos desde setembro, embora goze de invejáveis 55% e da falta de adversário de envergadura.
Ainda assim, Mutti (mamãe), como a chanceler é chamada em seu país, sofre as consequências de sua política migratória liberal, que acolheu mais de um milhão de refugiados. Levou quase seis meses para montar sua coalizão de governo e assiste ao avanço da legenda ultranacionalista de direita AfD, hoje a terceira força da Alemanha.
Conseguiu colocar Annegret Kramp-Karrenbauer, sua herdeira escolhida, como sucessora na CDU, partido que lidera desde 2000, e espera poder passar a ela o poder após as eleições gerais de 2021, quando se aposenta. Diante do crescimento voraz da AfD e do avanço dos Verdes pela esquerda, porém, essa certeza é etérea.
Sem os anos de preparo político da vizinha, Manu —apelido pelo qual o presidente mais jovem da França moderna é chamado ora com afeto ora como tentativa de desmoralização— viu seu capital político se consumir nos protestos dos “coletes amarelos”.
O grupo heterogêneo que tomou as ruas de grandes cidades francesas para protestar contra a perda de poder aquisitivo da classe média mostrou que o ânimo do eleitorado é cada vez mais volúvel, e que heróis políticos, novos e velhos, podem ser derrubados do pedestal rapidamente.
Que o diga o americano Donald Trump, eleito como epítome da nova política de interação direta com o eleitor e hoje enredado em investigações, graças a seu desdém pelo protocolo, e nas dificuldades em lidar com um Congresso que logo será mais oposicionista.
Ou a britânica Theresa May, catapultada pelo “brexit” e igualmente asfixiada por ele.
Inebriados pela força popular que os carregou ao ápice, esses líderes parecem pouco capazes de notar ventos que mudam em um triz.
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