Enquanto
militares se calam, diplomatas vão da perplexidade à indignação
De
um lado, militares são tidos como corajosos e durões e, de outro, diplomatas
carregam a fama de medrosos e melífluos, mas esses preconceitos estão sendo
colocados à prova no governo Jair Bolsonaro. Enquanto generais
resmungam em privado contra humilhações impostas aos seus pares, embaixadores
engrossam a crítica à política externa e aos delírios do chanceler Ernesto Araújo.
Militares
e diplomatas são carreiras de Estado, com provas de acesso e cursos que vão
deixando muita gente boa para trás, até afunilar nos melhores dos melhores.
Ambas são baseadas em hierarquia, disciplina e... cuidado ao falar. O que mais
se espera de militares e diplomatas, porém, é paixão pelo Brasil e prioridade
ao interesse nacional, porque governos vêm e vão, o Estado fica.
São
conhecidos a explicação dos militares de alta patente e o interesse dos de
baixa patente ao apoiar o capitão para presidente. Uns, por ideologia. Os
outros, pela expectativa de ter no poder quem passou a vida, na caserna e no
Congresso, cuidando de privilégios corporativos. O que não dá para entender é
por que eles aceitam com tanta facilidade Bolsonaro e seus filhos batendo continência
para um tal guru que xinga generais aos palavrões. Quando o general Santos Cruz
reagiu aos insultos, quem perdeu a guerra, e o cargo no Planalto, foi ele.
Agora,
Bolsonaro humilha o general da ativa Eduardo Pazuello, que se submete
candidamente: “um manda, o outro obedece”. Muito se lê que os militares ficaram
indignados, mas só Santos Cruz lembrou, ou advertiu, que hierarquia e
disciplina “não significam subserviência” e tudo não se resume a “mandar varrer
a entrada do quartel”. O general da reserva Paulo Chagas fez coro, ensinando
que a ética militar entre superiores e subordinados não pode ser o simples “um
manda e o outro obedece”.
E
como assimilar que Ricardo Salles chame o general da
reserva Luiz Eduardo Ramos de
“Maria Fofoca” e seja apoiado pelo filho do presidente? No fim, Salles pediu
desculpas “pelo excesso”, ao que Ramos prontamente aquiesceu: “as diferenças
estão apaziguadas”. “Diferenças”?
Com
Pazuello, bastou uma visitinha do presidente. Com Ramos, uma volta de moto pelo
DF. Assim, coube aos políticos, à frente Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, tomar as dores de
Ramos e, por tabela, dos militares: “Não satisfeito em destruir o meio
ambiente, (Salles) resolveu destruir o próprio governo”, desferiu Maia.
Assim
como nas Forças Armadas,
há no Itamaraty, ao lado da hierarquia e da disciplina, o instinto de
sobrevivência e a disputa por postos e promoções. Mas cresce a fila de
embaixadores “da reserva” dizendo o que precisa ser dito. No artigo “O grande
despautério”, no Jornal do Brasil, o ex-embaixador na Itália Adhemar Bahadian
resumiu o discurso do chanceler para os novos diplomatas: “as palavras foram
como pedras mal-educadas, rudes e tingidas de ódio” e “a diplomacia brasileira
(...) foi chicoteada como em navio negreiro”.
Também
já se manifestaram Rubens Ricupero, Roberto Abdenur, Marcos Azambuja, Celso
Amorim, José Alfredo Graça Lima, José Maurício Bustani, Samuel Pinheiro
Guimarães, Sérgio Florêncio, ex-chanceleres fora da carreira, como Celso Lafer,
e embaixadores ainda na ativa, como Everton Vargas, Paulo Roberto Almeida e
Mário Vilalva (licenciado).
O
tom vai da perplexidade à indignação diante da subserviência ao governo Trump, a opção por um lado na guerra
entre EUA e China, as caneladas em parceiros tradicionais, a prevalência da
ideologia sobre o interesse nacional e o retrocesso em foros internacionais. Ao
combater o bom combate, esses nossos embaixadores trazem luz e realidade não só
para os diplomatas, mas para todos os corajosos e durões na defesa do Brasil.
*Comentarista da Rádio Eldorado, da Rádio Jornal e do Telejornal Globonews em Pauta
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