Processos
atrasados na Previdência ultrapassaram 4,4 milhões
É
um desastre administrativo sem precedentes. A quantidade de processos atrasados
na Previdência ultrapassou 4,4 milhões. Estão pendentes mais de 3,6 milhões de
perícias e 788 mil avaliações de assistência social, atestam os dados oficiais
auditados no dia 30 de agosto.
Por
trás das estatísticas, está uma multidão sem rosto, de pobres com algum tipo de
incapacidade, dependentes das aposentadorias e pensões ainda não reconhecidas.
O número de vítimas desse congestionamento no INSS já equivale a 60% dos
habitantes do Rio. Supera a população da Baixada Fluminense.
A
confusão nada tem a ver com falta de dinheiro. É desleixo burocrático mesmo,
com limitada contribuição da pandemia — o volume de processos atrasados
aumentou um terço entre março e agosto. No caos florescem interesses de
corporações, como a dos médicos peritos.
É
reflexo da falta de liderança. Mas isso, naturalmente, não está na agenda de
Jair Bolsonaro, mais preocupado com a reeleição sob a bandeira do retrocesso
secular, numa fraudulenta defesa do liberalismo. Na bolsopandemia, ele já
desperdiçou dinheiro público com químicos inócuos, redefinindo o charlatanismo
na política.
O
filme é antigo. Foi visto há 170 anos, quando a febre amarela aportou a bordo
de um navio de bandeira americana, devastando o império de Pedro II. Em abril
de 1850, o senador mineiro Bernardo Pereira de Vasconcellos, defensor da
escravidão, foi à tribuna do Senado para pregar a “liberdade” de ficar doente,
sem interferência do governo: “Peço que me deixem curar com charlatães quando
entender que me podem servir melhor do que os senhores doutores”. Morreu duas
semanas depois, de febre amarela.
O presidente agora propõe uma revolta da vacina, como a de 1904. É ardil de campanha, conveniente para encobrir a tragédia de 157 mil mortes e a incapacidade de resolver problemas governamentais que se agravam, como o do INSS. No melhor cenário, estima o Tribunal de Contas da União, o último dessa fila só será atendido dentro de 34 meses, por volta de agosto de 2023. Ou seja, no próximo governo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário