terça-feira, 27 de outubro de 2020

Poesia | Manuel Bandeira - Belo belo

Belo belo belo 
Tenho tudo quanto quero, 
Tenho o fogo de constelações extintas há milênios, 
E o risco brevíssimo — que foi? Passou — de tantas estrelas cadentes. 

A aurora apaga-se, 

E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora. 

O dia vem, e dia a dentro 

Continuo a possuir o segredo grande da noite. 

Belo belo belo, 

Tenho tudo quanto quero. 

Não quero o êxtase nem os tormentos, 

Não quero o que a terra só dá com trabalho. 

As dádivas dos anjos são inaproveitáveis: 

Os anjos não compreendem os homens. 

Não quero amar, 

Não quero ser amado. 
Não quero combater, 
Não quero ser soldado. 

— Quero a delicia de poder sentir as coisas mais simples. 

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