Depois
de se mostrar um mau prefeito, Marcelo Crivella também se revelou um mau profeta. O bispo passou a campanha
anunciando a prisão do adversário Eduardo Paes. Ontem ele é que foi em cana,
acusado de chefiar um esquema de corrupção.
De
acordo com as investigações, o grupo começou a faturar antes da eleição de
2016. Quando o bispo virou prefeito, seus aliados montaram um “quartel-general
da propina” para fraudar licitações e achacar fornecedores.
O
Ministério Público apontou Crivella como o “vértice” da organização criminosa.
O principal operador era o lobista Rafael Alves. Ele instalou o irmão na Riotur
e passou a despachar na Cidade das Artes e acompanhar as caminhadas matinais do
prefeito.
Ao examinar as provas, a desembargadora Rosa Helena Guita concluiu que a quadrilha atuou de modo permanente, “ao longo dos quatro anos de mandato” e “nos mais variados setores da administração”.
Às
vésperas do Natal, ela determinou que o bispo fosse recolhido ao xadrez. Os
fundamentos da prisão preventiva eram questionáveis, e a decisão foi cassada
horas depois pelo STJ. No entanto, o desvio de ao menos R$ 53 milhões parece
bem documentado na denúncia.
O
esquema de Crivella recicla personagens de outros escândalos fluminenses. O
doleiro Sergio Mizrahy, que delatou o grupo, já havia sido preso na Lava-Jato.
O empresário Arthur Soares, acusado de abastecer a turma, reinou no governo de
Sérgio Cabral.
O
marqueteiro Marcelo Faulhaber, denunciado como integrante da quadrilha,
coordenou a campanha de Paes neste ano. Por via das dúvidas, o prefeito eleito
evitou festejar a derrocada do rival.
A
prisão de Crivella antecipa o fim de uma gestão marcada pela desordem
administrativa e pela mistura entre fé e política. Ele já havia garantido o
título de pior prefeito da história da cidade. Ontem saiu de cena de
camburão, a nove dias do fim do mandato.
A queda do bispo abala o projeto de poder da Igreja Universal. Edir Macedo apostava no sobrinho para mandar sem intermediários. Agora terá que barganhar mais espaço no governo do aliado Jair Bolsonaro
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