Metade
final de 2021 deve ser melhor, mas desordem na saúde deve causar estagnação
A
segunda metade do ano que logo vem pode ser de notícias melhores na
economia se o governo
não sabotar o país. O verão de 2021, porém, vai ser uma “fase
vermelha”, como se diz aqui em São Paulo das restrições mais graves
para comércio e serviços na epidemia.
Não
quer dizer que a economia vá embicar para baixo ou que embique de modo
relevante. Mas os indícios são
de que deve haver estagnação, uma parada da recuperação desde o
fundo do poço de meados do ano. Quais são esses indícios?
O Índice de
Confiança do Consumidor medido pela FGV caiu de modo
significativo de novembro para dezembro e a intenção de ficar na retranca nos
gastos é alta. O repique da epidemia, o fim dos auxílios emergenciais, a
desordem no programa de vacinação e o desgoverno em geral devem derrubar os
ânimos.
A inflação medida pelo IPCA deve ficar entre 5,5% e 6% ao ano de abril a agosto. É uma dentada cruel na renda real e uma injeção de desânimo na veia do povo miúdo.
No
estado de São Paulo, o número de internações em UTI por Covid-19 parece ter
desacelerado nesta semana, mas ainda é cerca de 60% maior que no início de
novembro. O número de mortes é 86% maior. No conjunto do país, o morticínio
cresceu mais de 100% nesse período.
Mesmo
sem restrições formais a movimentação e atividade econômica, o medo causa
receio ou paralisa. Continuam parados, muito prejudicados ou voltam a cair os
negócios de turismo, convenções, feiras, viagens, esportes, cultura,
entretenimento em geral, serviços de saúde e de educação, restaurantes, bares,
lanchonetes, salões de beleza, academias. A movimentação menor pelas cidades
derruba a venda dos lojistas. Tudo isso é um pedaço enorme da economia. O
repique da Covid-19 já faz estragos nos faturamentos, é a conversa quase geral,
mesmo sem medidas restritivas.
Quanto
à política econômica, mais especificamente sobre gastos do governo, é agora
improvável que aconteça uma explosão, barbeiragem ou gambiarra mais nociva até
fevereiro, pelo menos. Mas não há governo na economia e não se sabe se haverá,
menos ainda enquanto não houver a eleição dos comandos de Câmara e Senado, em
fevereiro. Até lá, haverá arrocho por inércia e inépcia do governo.
Ainda
assim, a falta de rumo (qualquer rumo racional), a persistência da epidemia e a
sabotagem federal do programa de vacinação não devem animar contratações de
trabalho e de novos investimentos em expansão de empresas e construções. Haverá
certamente uma massa de pessoas, talvez vinte milhões ou mais, que cairá em
miséria, mesmo no melhor cenário médio.
Nesta
quarta-feira pode ser que tenhamos uma grande e boa notícia sobre a vacina
comprada pelo governo de São Paulo. Uma vacina eficaz (perto de 90%) e um
programa de vacinação com ampla cobertura (mais de 90% das pessoas) atenuaria a
tristeza horrível por tanta morte e daria esperança econômica.
A
taxa básica de juros está baixa, há oferta razoável de crédito bancário, o
preço das commodities está bom, há alguma poupança financeira represada nas
famílias remediadas. Há pelo menos alguns meios para que possamos continuar a
subir desde o fundo do poço da epidemia. Com responsabilidade sanitária na
virada do ano e no verão, a retomada da retomada poderia vir mais cedo.
Se
Jair Bolsonaro e sua sabotagem criminosa da vacinação puderem ser contidos,
melhor ainda _o país, governadores e Supremo tentamos improvisar um governo na
área da saúde.
No entanto e por enquanto, o risco é de a recuperação fraquejar no verão vermelho da Covid-19.
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