Presidente
não cumpre as próprias promessas, sabota vacina e ataca meios de comunicação
Gestão
Bolsonaro completa 2 anos sem cumprir promessas. Esta é a manchete deste jornal
no último dia 21. O texto de Vinícius Valfré relaciona os 12 principais temas
da campanha eleitoral que levou o capitão à vitória, todos abandonados no
governo.
Já
no início da gestão havia deixado de lado promessas de palanque, como
privatizações, reforma tributária e apoio à Lava Jato. Para completar, em abril
livrou-se de uma promessa pessoal: o ex-juiz Sergio Moro, símbolo da operação
contra a corrupção. Outro pilar da lorota para seduzir liberais crédulos, o
“posto Ipiranga” na economia, Paulo Guedes, ficou na equipe, mas nenhuma
bandeira sua foi desfraldada de fato. “Reformas desidratadas foram encaminhadas
ao Congresso sem uma articulação política capaz de viabilizá-las. A
simplificação de tributos e a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até
cinco salários nunca saíram do papel”, registrou Valfré.
Ele nomeou para cargos poderosos membros do Centrão, indicados por políticos acusados de receber propina, em troca de apoio em eventual processo de impeachment e outros assuntos de interesse pessoal e familiar. Prestigiou as pautas prioritárias para seu eleitorado fiel da extrema direita, o direito de matar dos policiais (presunção de ilicitude), o afrouxamento de limites de velocidade no trânsito e a suspensão de decretos de rastreamento de armas. O principal lema da campanha – “O Brasil acima de tudo e Deus acima de todos” – foi trocado por “aos meus filhos tudo, aos inimigos o rigor da lei”. Disse que era “a Constituição”, superando o rei francês Luís XIV, que se definia como “o Estado”. E que os R$ 89 mil depositados pelo acusado pelo Ministério Público do Rio de ser miliciano Fabrício Queiroz e sua mulher, Márcia Aguiar, para a consorte, Michelle, são irrisórios para configurarem propina. Confessou, sem querer, querendo, ser corrupto.
Para
não ter de responder pelos crimes que tem cometido, recorre ao dublê de
advogado pessoal de sua famiglia e procurador-geral da República,
Augusto Aras, que faz das tropas coração para livrá-lo do escândalo da Agência
Brasileira de Informação (Abin), órgão de Estado que usou em proveito próprio e
de sua ninhada. Ficou claro, em furo dos jornalistas Guilherme Amado, da Época,
e Fábio Leite, da Crusoé, que a agência de informação foi utilizada para
ajudar Flávio Bolsonaro a escapar da denúncia da prática de peculato,
corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, em seu gabinete na
Assembleia do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Segundo Aras, a denúncia é
“grave”, mas tem de ser “provada”. A ministra do Supremo Tribunal Federal (STF)
Cármen Lúcia determinou que as procurasse em investigação e lhe deu 30 dias
para informar as providências que terá tomado. Para ela, a Abin só pode
fornecer dados quando comprovado o interesse público da medida e sob controle
do Judiciário, ficando vedado o repasse de informações de inteligência com
objetivo de atender a interesses pessoais ou privados.
A
Abin substituiu o Sistema Nacional de Informações (SNI), da ditadura militar,
criado pelo general Golbery do Couto e Silva e extinto por Fernando Collor. Foi
criada por lei no governo Fernando Henrique, em 1999, a pretexto de fornecer ao
presidente da República e a seus ministros informações e análises estratégicas,
oportunas e confiáveis, necessárias ao processo de decisão. Mas, na prática,
foi, sob FHC, inicialmente, manipulada por Sérgio Motta para perpetuar no poder
seu partido, o PSDB.
Usada
desde sempre para fins políticos, protagonizou desvios de conduta em vários
escândalos nacionais. O mais notório foi o grampo no Supremo, em 2007, sob a
égide do PT de Lula: chefiados pelo delegado Paulo Lacerda, arapongas da Abin
fizeram escutas ilegais no gabinete de vários ministros e do então presidente
do STF, Gilmar Mendes. Por isso o delegado, que também dirigiu a Polícia
Federal (PF), e sua diretoria foram afastados.
Outro
delegado federal, Alexandre Ramagem, que participou da segurança do candidato
Bolsonaro depois do atentado em Juiz de Fora, instalou na agência aqueles que o
próprio presidente definiu como sua agência pessoal de informação na fatídica
reunião de 22 de abril, cujo vídeo foi visto por todos, por decisão do então
decano do STF, Celso de Mello. Se investigar mesmo, Aras poderá deparar-se com
o esquema executado, segundo a Crusoé, por um delegado da PF, Marcelo Bovernet,
pelo agente Flávio Antônio Gomes, chefe da Abin em São Paulo, e pelo
papiloscopista João Paulo Dondelli, diretor de Projetos Especiais do Ministério
das Comunicações.
Na
sexta-feira 18 de dezembro, Bolsonaro foi à formatura de novos policiais
militares do Estado do Rio, que formam o que ele chamou de “milícias populares”
na reunião acima referida. Na ocasião, assumiu o compromisso de que não deixará
de cumprir o que sempre prometeu contra a verdade e a vida e a favor da mentira
e da morte, adotando como inimigo comum a busca da realidade: “Essa imprensa
jamais estará do lado da verdade, da honra e da lei. Sempre estará contra
vocês. Pensem dessa forma para poderem agir”. Ao estilo bem lulista de ser,
como lhe convém.
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