Reforma
tributária já deixou a agenda do Ministério da Economia
Na
agenda de reformas do Ministério da Economia para 2021, a tributária está fora.
Tão logo se defina a eleição das mesas da Câmara e do Senado, em fevereiro, a
primeira Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que o governo pretende se
empenhar na aprovação é a Emergencial, que cria os gatilhos e travas para o
cumprimento da lei do teto de gastos. Nesta, a área econômica ainda sonha com a
possibilidade de inclusão para votação dos três D, sobretudo a desindexação,
além da desvinculação e desobrigação. Estes, porém, não constavam da última
versão do texto do relator da PEC, senador Marcio Bittar (MDB-AC).
O
Orçamento do próximo ano já está com despesas subestimadas por causa da
indexação do salário mínimo à variação do INPC. Com a aceleração da inflação, o
valor do INPC ficou subavaliado, afetando, assim, os cálculos dos gastos com benefícios
previdenciários e assistenciais vinculados ao salário mínimo.
Segundo
dados apresentados pelo jornalista Ribamar Oliveira na sua coluna de ontem,
publicada neste espaço, se o INPC ficar em 4,8% - ou seja, 0,7 ponto percentual
acima do indice considerado no orçamento -, isso resultará em uma despesa
adicional para os cofres da União de R$ 5,378 bilhões.
Antes da tributária, argumenta-se, tem a reforma administrativa para ser discutida e aprovada ainda no ano que vem. Embora a proposta do Executivo, que está no Congresso, seja tímida demais - porque o presidente da República não quis mexer com os atuais funcionários públicos -, a administrativa é o único projeto que busca reduzir o gasto com o pagamento de pessoal de forma estrutural.
Esse
é o terceiro bloco das grandes despesas orçamentárias. Primeiro era a
Previdência Social, cuja reforma foi aprovada no ano passado. Em segundo a taxa
de juros que incide sobre a dívida pública, que encontra-se, atualmente, em seu
menor nível (2% ao ano).
Ambos
os gastos foram, portanto, atacados. E é bom que se diga que o juro básico só
está nesse patamar porque havia uma política de rigor fiscal para lhe dar
sustentação desde o governo anterior, de Michel Temer.
Um
dos problemas da proposta de reforma administrativa do governo é que ela não
mexe com os atuais funcionários. As novas regras de contratação, de gestão e de
salários só vão valer para os servidores que entrarem no serviço público após a
aprovação da PEC.
É
de fundamental importância apresentar aos agentes econômicos domésticos e aos
investidores estrangeiros um plano de governo em que se vislumbre, para os
próximos anos, um certo equilíbrio das contas públicas.
Nesta
semana o ministro da Economia, Paulo Guedes, enviou ao Congresso ofício onde
ele estabelece uma meta fiscal de déficit primário de R$ 247,118 bilhões para o
governo central.
Para
as empresas estatais está fixado um déficit de R$ 3,97 bilhões e para os
Estados e municípios, equilíbrio (superávit de cerca de R$ 200 milhões). A meta
de déficit primário consolidada é, portanto, de R$ 250,9 bilhões para o próximo
ano.
Acredita-se
que isso associado à garantia de segurança jurídica dos contratos, mais do que
resolver o “manicômio” tributário, é o que vai estimular os investidores
internacionais a virem para o Brasil, aproveitando da imensa liquidez que há no
mundo e do amplo programa de investimentos em infraestrutura e logística
disponível no país.
Para
assegurar juridicamente os investimentos tão esperados em infraestrutura,
aguarda-se a aprovação da Lei Geral das Concessões. A proposta de um novo marco
legal das concessões e Parcerias Público-Privadas (PPPs) foi aprovada em
comissão especial da Câmara dos Deputados no fim do ano passado e desde então
aguarda votação em plenário.
Com
224 artigos, o texto é a maior alteração feita na legislação sobre as
concessões desde os anos 1990 e pretende garantir segurança jurídica e
possibilitar a retomada de investimentos.
O
projeto amplia o uso da arbitragem nos contratos, para facilitar a solução de
pendências relativas ao equilíbrio econômico-financeiro, dentre outras
mudanças. Espera-se, com esse novo marco legal, não deixar espaço para atitudes
tresloucadas como a do prefeito do Rio, Marcelo Crivela, que mandou derrubar as
catracas e cancelas do pedágio da Lamsa, na linha amarela, por discordar do
preço cobrado.
Na
avaliação que faz da economia brasileira, a OCDE (Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico) realça a necessidade de mais reformas e uma real
abertura da economia e insiste no intrincado ambiente de negócios que leva uma
empresa de médio porte a gastar, aqui, cerca de 1.500 horas/ano para lidar com
a carga de impostos. Na América Latina, esse tempo é de 317 horas/ano, e, nos
países da OCDE, de 159 horas.
A
pobreza e a desigualdade também chamam a atenção, assim como a negligência com
o meio ambiente. Os prognósticos da OCDE para a economia brasileira são de uma
recessão de 5% neste ano e crescimento de 2,6% e de 2,1% em 2021.
Em
função do calendário político e as atenções voltadas para a disputa das
presidências da Câmara e do Senado, o governo só vai se preparar para as
negociações das reformas a partir de fevereiro. De antemão é possível dizer que
é muito difícil a aprovação de duas PECs, a Emergencial e a Administrativa no
mesmo ano legislativo e estando o chefe do Poder Executivo no seu terceiro ano
de mandato e pleiteando a reeleição.
O impulso fiscal dado pelo auxilio emergencial pago a 68 milhões de brasileiros e pelas medidas de apoio ao setor privado em meio à explosão da pandemia terá que ser acompanhado de expansão dos investimentos no país, sem o que a recuperação que está em curso terá, uma vez mais, fôlego curto.
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