“O mercenário, que não é pastor, a quem não
pertencem as ovelhas, vê o lobo aproximar-se, abandona as ovelhas e foge, e o
lobo as arrebata e dispersa, porque ele é mercenário e não se importa com as
ovelhas”. Está no Evangelho de João, aquele que Jair
Bolsonaro cita de modo blasfemo, como se fora um clichê mundano, sem
entender o que quer dizer “a verdade vos libertará”, se é que leu o texto, que
de qualquer modo não entendeu, dada a sua grosseria moral e intelectual.
No
início da epidemia, esse homem não apenas abandonou os brasileiros a seu
próprio azar, mas sabotou os esforços de quem se bateu para não entregar as
pessoas ao lobo da praga. Outra vez agora, o que restou de decência e razão no
país se
organiza a fim de vacinar o povo, proteger as pessoas que trabalham nos
hospitais e salvar da morte pelo menos os nossos avós, de início.
A maioria dos governadores, prefeitos e o Supremo Tribunal Federal tentam improvisar um governo nacional pelo menos no que diz respeito à emergência da saúde. A desgraça recrudesceu, as mortes outra vez passam das mil por dia. É possível que entre o Ano Novo e o que alguns cristãos chamam da festa de Reis, 6 de janeiro, pelo menos 200 mil brasileiros tenham morrido de Covid-19. Em São Paulo, as internações e mortes aumentaram na casa de 60% desde o início de novembro.
A iniciativa de criar ao menos um governo para as vacinas é um arranjo precário, o que se tenta salvar do incêndio. Para piorar, o Congresso ou pelo menos o arranjo que continha os piores arreganhos de Bolsonaro está em pane. O Parlamento pode cair sob seu controle ou influência maior na eleição de fevereiro para os comandos da Casa. Uma perna do sistema de governo improvisado para limitar a destruição bolsonarista está para ser cortada. Bolsonaro, pois, ganha força para tocar seu projeto de destruição. É o anticristão, em todos os sentidos da palavra, no aumentativo do substantivo e no adjetivo.
O
mercenário outra vez sabota o trabalho de quem quer proteger as pessoas da
morte, desmoralizando
a vacinação, disseminando dúvidas sem fundamento de modo a alimentar o
desvario que é sua razão de ser e poder. Faz assim com qualquer instituição ou
ideia racional. Tenta desmoralizar as eleições, imitando Donald Trump feito um
sabujo rábico. Nega e estimula a destruição do ambiente, até agora o projeto
mais bem-sucedido. Difunde a ideia de que o morticínio também pelas armas de
fogo é uma solução para o problema da violência. Não são abstrações, são suas medidas
ou propagandas mais recentes.
No
submundo em que vive, tenta manipular com cada vez mais afinco os órgãos de
polícia e fiscalização (como a Receita). Espalha agentes da Abin pelos
ministérios. Depois de ser obrigado a parar com os comícios golpistas, toca seu
projeto de destruição de modo mais insidioso.
Se
o Congresso cair sob a influência de Bolsonaro, será pior. Mesmo a fantasia de
“reformas” escorre pela vala suja. O capitão da extrema direita jamais se
importou com isso. A fim de atacar João Doria, negou até privatização de um
entreposto federal de alimentos, a Ceagesp.
Sem
governo e com o Congresso em pane, não haverá socorro para os milhões que
cairão em pobreza ainda maior com o fim dos auxílios. Não há plano de
recuperação econômica em geral, nem mesmo para as contas do governo, “ajuste”
que para os donos do dinheiro grosso justificou a eleição do capitão da extrema
direita, o mercenário de João, que passeia pelo Brasil dizendo baixezas e
mentiras com seu esgar demoníaco.
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