Um
dia depois da posse, Jair Bolsonaro virou-se para o então comandante do
Exército, Eduardo Villas Bôas, e fez um agradecimento público. “O que já conversamos
morrerá entre nós. O senhor é um dos responsáveis por eu estar aqui”, disse. Em
entrevista ao professor Celso Castro, o general se negou a revelar o teor do
diálogo com o capitão. Apesar da recusa, seu depoimento ajuda a entender a
gratidão presidencial.
Dizendo-se
contrário à participação dos militares na política, Villas Bôas usou a farda
para impulsionar o candidato dos quartéis. Às vésperas da eleição de 2018, ele
pressionou o Supremo a negar um habeas corpus a Lula. O ex-presidente foi
preso, e Bolsonaro passou a liderar a corrida ao Planalto.
No
livro da FGV, o general conta que seus tuítes foram “discutidos minuciosamente”
com o Alto Comando. O relato envolve toda a cúpula do Exército no que o
ministro Celso de Mello definiu como uma intervenção “pretoriana”,
“inaceitável” e “infringente do princípio da separação de Poderes”.
Villas
Bôas admite que agiu “no limite da responsabilidade”, mas indica que não se
considera um golpista. “Tratava-se de um alerta, muito antes que uma ameaça”,
informa. Em outra passagem, ele define o marechal Castello Branco, pivô do
golpe militar de 1964, como um “legalista”.
A defesa da ditadura está na origem do ressentimento do general com o PT. Ele reconhece que Lula reaparelhou as Forças Armadas, mas afirma que os militares se sentiram traídos pela instalação da Comissão Nacional da Verdade.
Nomeado
comandante por Dilma Rousseff, Villas Bôas revela que jantou com Michel Temer
quando o então vice articulava o impeachment da então presidente. Depois do
repasto, ele indicou um amigo de infância, o general Sérgio Etchegoyen, para
chefiar o Gabinete de Segurança Institucional.
Em
sintonia com Bolsonaro, o oficial esbraveja contra o “politicamente correto”,
critica a luta antirracista e acusa o PT de promover a “destruição moral do
país”. Mas é só elogios a Temer, que foi alvo de três denúncias de corrupção no
exercício do cargo.
Sem corar, Villas Bôas descreve a conversa gravada por Joesley Batista como um mero episódio de “ingenuidade do presidente”. Em tantas décadas de estrada, Temer já foi chamado de muitas coisas. De ingênuo, deve ter sido a primeira vez.
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