Na
política a velocidade desmedida e a imoderada segurança na corrida aos meios e
modos do poder são fatais
O
exagero, a precipitação e a autoconfiança excessiva são inimigos mortais de
quaisquer estratégias. Adversários na vida de modo geral, traduzidos no dito
segundo o qual quebram-se os potes de água quando a eles se vai de modo
atabalhoado para matar a sede, na política a velocidade desmedida e a imoderada
segurança na corrida aos meios e modos do poder são fatais.
Podem
até render vitórias imediatas, mas semeiam derrotas ao longo do tempo porque
nada que extrapola dá bom resultado de modo perene. O que é demais não
apenas enjoa como enoja e provoca reações no sentido contrário tão ou mais
fortes que a ação abusiva.
A
ascensão e queda do PT por exorbitâncias cometidas na falta de compreensão do
que seria legal ou ilegal no, digamos, acesso à coisa pública é o exemplo mais
eloquente no qual os parlamentares do Centrão poderiam e, sobretudo, deveriam
mirar para fugir do risco da debacle anunciada no assalto que o grupo faz ao
Planalto e adjacências.
Os rapazes e moças dessa banda não querem nada além do domínio total do governo. Chegaram já pretendendo desalojar os ditos ideológicos e dar um chega para lá nos militares.
Fosse
pelos motivos corretos, o déficit de bom senso dos obscurantistas e o excesso
de gente oriunda das Forças Armadas em regime de comando civil, ainda vai. Mas
a ofensiva visa apenas à ocupação de espaços em ministérios, nas áreas de
infraestrutura país afora, na coordenação política e até nas agências
reguladoras, como demonstrado na ousada tentativa de enquadrar a Anvisa.
A
sofreguidão contraria a celebrada competência política do grupo. Isso talvez se
explique pelo fato de os mais experientes e habilidosos personagens do Centrão
original, surgido na Assembleia Constituinte de 1987/1988, estarem hoje fora do
jogo. Mortos, aposentados ou no ostracismo. Fato é que a nova geração, em boa
medida à época integrante do baixo clero, não faz jus ao colégio de cardeais
que a antecedeu.
Dos
maus conselhos fornecidos pela voracidade desatenta ao real tamanho das
próprias pernas deu notícia recente o então presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
Ao se enxergar maior do que era, fez uma manobra dúbia sobre a reeleição ao
posto, apostou no apoio do Supremo Tribunal Federal e só colheu perdas. Perdeu
tempo para elaborar um plano B, perdeu força dentro do próprio partido, que
pulou para fora do barco dele a fim de garantir ganho no Senado, e perdeu
prestígio externo.
O
governador João Doria é outro que flerta com os riscos da ansiedade. Agora,
forçando uma definição pelo domínio do PSDB irritando adversários internos, e
antes, quando viu o que uma viagem a Miami em pleno aperto de restrições à
população de São Paulo pode causar de estragos no capital positivo amealhado
por sua gloriosa atuação em prol das vacinas.
Para
fechar o rol, temos o rei dos açodados, o imperador dos exacerbados, na figura
de Jair Bolsonaro. Tantas o presidente fez, tamanhos foram os erros que cometeu
nesse campo das demasias desmedidas que não lhe restou alternativa a não ser
negar uma a uma as suas proposições de campanha e até suas bandeiras junto aos
fiéis mais fanáticos.
Da
aludida nova política ao combate à corrupção, passando pela recente tentativa
de sair à francesa do negacionismo em relação à pandemia, Bolsonaro foi sendo
obrigado pela realidade a trocar de casca e ainda amargar o carimbo de
estelionatário das urnas. Apesar desses pesares, saiu-se até agora sem maiores
danos, embora esse tira-teima eleitoral esteja em aberto para ser resolvido em
outubro de 2022.
Já
os adeptos da seita do “mito” contabilizam prejuízos graves. No Congresso a
deputada Bia Kicis não sofreria tanta contestação à indicação para a
presidência da Comissão de Constituição e Justiça não fosse seu histórico de
extremismos. Dessa doença senil do sectarismo entusiasmado padeceram outras
estrelas agora cadentes. Onde estão as saras winters, os allan dos santos, os
olavos de carvalho, os weintraubs?
Em
casa de tornozeleira eletrônica, bloqueados nas redes sociais, condenados a
pagar indenizações milionárias, em exílios mais ou menos voluntários, longe dos
seus, sem palanque nem tribunas, processados, investigados, desacreditados e,
sobretudo, ridicularizados.
Pergunte-se
a qualquer um se valeu a pena. Na fala dirão que sim, mas na alma carregarão a
paga das pragas incivilizadas por eles rogadas.
Publicado em VEJA de 17 de fevereiro de 2021, edição nº 2725
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