Moderados
evitam a ruptura institucional e possibilitam reformas
Amaral
Peixoto dizia que as grandes questões institucionais no Brasil tinham sempre o
centro político como protagonista. Isso porque aglutinava os moderados da
direita e da esquerda para evitar rupturas institucionais graves, para promover
avanços. Ou, até mesmo, patrocinar tais rupturas, como no caso do movimento de
1964.
Nos
anos 80, no fim do regime militar, o centro político se organizou tanto com os
moderados de direita do PDS quanto com os moderados de esquerda do PMDB para
conduzir a transição política. Na Assembleia Nacional Constituinte, novamente o
centro político reapareceu, minimizando a esquerdização radical proposta pelos
setores ditos progressistas.
Na
época do Plano Real, os moderados de esquerda do PSDB-PMDB e o PFL se
organizaram para aprovar o plano que eliminou a hiperinflação no país e deu
início a um período de intensas reformas. Vale lembrar que o PSDB fora formado,
anos antes, pela esquerda do PMDB. Adiante, Lula ganhou a eleição em 2002
quando se movimentou para o centro. Trouxe o empresário José de Alencar para
sua chapa e lançou a Carta aos Brasileiros, em que se comprometia a não fazer
loucuras na economia.
O governo de Lula foi um sucesso quando marchou da esquerda para o centro, buscou apoio na centro-direita e superou graves crises. Quando elegeu Dilma Rousseff, Lula deixou a fórmula pronta: narrativas de esquerda e gestão centrista. Porém, encantada com a própria mediocridade, ela abandonou o centrismo, encalhou e sofreu o impeachment. Com Michel Temer, o centro se organizou com a direita e reiniciou um processo magnífico de reformas que até hoje ainda dá frutos.
Jair
Bolsonaro, aproveitando a destruição da política pelo lavajatismo, chegou ao
poder propondo uma nova política que nunca — sequer — conseguiu desenhar. Em
março de 2020 passou a construir o seu “novo-velho” presidencialismo de
coalizão, conversando com partidos de centro e dando espaço a políticos em seu
governo.
O
centro político brasileiro é identificado pela mídia, de forma preconceituosa e
errada, como “Centrão”. Como se existisse um Centrão que comandasse de forma
harmoniosa os movimentos políticos. O Centrão, como imaginado, é uma ficção, já
que se trata de grupos que se juntam e se separam de acordo com as
circunstâncias. O rótulo de Centrão vem dos tempos da Constituinte, como forma
de sugerir que os grupos que os integram eram “retrógrados” e — pecado supremo
— “conservadores”. E, quase sempre, clientelistas, fisiológicos e corruptos. A
Lava-Jato provaria que o fisiologismo, o clientelismo, o patrimonialismo e a corrupção
não são exclusivos dos que integram o centro político do Brasil.
Com
virtudes e defeitos, as forças de centros — quando unidas — formam vetores de
reformas importantes. O ano que se inicia apresenta uma agenda espetacular de
potenciais avanços, que vão exigir dos integrantes do centro político
responsabilidade que está além dos interesses paroquiais, partidários e
eleitorais, com vistas aos avanços institucionais de que necessitamos para sair
da crise da pandemia.
Publicado em VEJA de 17 de fevereiro de 2021, edição nº 2725
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