É
preciso mostrar serviço. Quem fala de esperança é a oposição
Passada a eleição municipal e empossados os escolhidos, começa a corrida pela vaga de Jair Bolsonaro. Competição da qual participa o próprio, muito disposto a suceder a ele mesmo. As municipais são nossas “midterm”. Nos Estados Unidos, elas elegem todos os deputados, uma parte dos senadores e dos governadores. Aqui, todos os prefeitos e vereadores. O ponto médio do período de quatro anos é a largada para a eleição seguinte.
O
universo da política gira sempre em torno de eleições. Daí haver certa
ingenuidade (ou malandragem) quando se diz ao governante, nos diversos níveis,
“desça do palanque e governe”. Mais honesto seria admitir: quem desce do
palanque está arriscado a enfraquecer-se. Pior. Dada a quase impossibilidade,
aqui, de o eleito trazer com ele a maioria parlamentar, se descer do palanque,
aumenta o risco de ser derrubado.
Quem desce do palanque não governa, ou enfrenta imensas dificuldades, inclusive porque a periodicidade e a assiduidade das eleições exigem o reabastecimento permanente e atento da expectativa de poder, o que pede ao político alimentar uma projeção de futuro. Isso é mais fácil para quem está na oposição. Pois a pergunta “se está dizendo que vai fazer, por que não fez ainda?” vive exposta na prateleira do supermercado mercadológico eleitoral.
É
sempre possível, claro, dizer que não fez ainda porque não deu tempo, porque
pegou a situação com muitos problemas e precisa de mais quatro anos para
completar a obra. Para esse discurso colar, depende de algumas coisas, duas
delas muito importantes: a vida dos eleitores estar algo confortável e haver
operadores eficientes empenhados na construção da narrativa “as alternativas
não são boas, com elas a coisa poderia estar muito pior”.
Mas,
regra geral, quem carrega a tocha da esperança é a oposição, então o governo
precisa estar sempre mostrando serviço e com uma defesa bem articulada. Para
fazer do presente a ponte da esperança de um futuro mais bonito. No caso de
agora, Bolsonaro precisa, em 2021, mostrar serviço nas suas duas frentes principais:
a vacinação e o suporte econômico aos mais vulneráveis na pandemia. Sem isso,
será alvo fácil em 2022.
Todos
dizem que é provável termos vacinas em grande quantidade a partir ainda deste
semestre, e que isso é certo para o próximo. Se acontecer, colaborará para
“retomar a retomada” econômica (até o governo já prevê retração neste começo de
ano). O que pode fazer o povo chegar à eleição com um certo alívio. Se a turma
estiver vacinada e a economia crescendo, o candidato a continuar terá credibilidade
para falar de um futuro melhor.
Também
por isso a vitória de Arthur Lira (PP-AL) foi tão estratégica. Permite a
Bolsonaro atravessar esses meses mais delicados sem estar ameaçado pela
guilhotina do impeachment. Se desse Baleia Rossi (MDB-SP), apesar de todas as
declarações apaziguadoras, já se estaria armando o cadafalso habitual no
Brasil. Mas, vamos repetir, o governo precisa funcionar. Nada, ou quase nada
(na política o “quase” é importante), pode substituir isso.
Publicado em VEJA de 17 de fevereiro de 2021, edição nº 2725
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