Jair
Bolsonaro está acuado. Na semana passada, o presidente viu o Centrão jogar na
mesa a carta do impeachment. Em tom de ultimato, Arthur Lira criticou a
“espiral de erros” do governo e avisou que “tudo tem limite”. “Os remédios
políticos no Parlamento são conhecidos e são todos amargos. Alguns, fatais”,
afirmou.
Cinco
dias depois, o capitão entregou a Secretaria de Governo a uma afilhada de Lira.
Deputada de primeiro mandato, Flávia Arruda recebeu a chave do cofre de cargos
e emendas. Ameaçado pelo Centrão, Bolsonaro fraquejou. Não foi sua única
capitulação ao Centrão.
Na mesma segunda-feira, o presidente despachou Ernesto Araújo do Ministério das Relações Exteriores. O pior chanceler da história não foi demitido por seu desempenho calamitoso. Caiu porque o Congresso exigiu sua cabeça. Despediu-se com uma carta rastejante, em que se refere ao capitão como “querido chefe”.
Com
a pandemia fora de controle e os quatro filhos sob investigação, Bolsonaro
perde popularidade e começa a assistir à debandada de fatias expressivas do
PIB. Ao celebrar seu aniversário, há dez dias, o capitão disse que “só Deus”
poderia tirá-lo do poder. É neste contexto que ele volta a apelar ao fantasma
de um autogolpe.
O
presidente nunca escondeu seus planos. Quer transformar as Forças Armadas numa
milícia particular, a ser usada para defender seus interesses políticos. Os
militares abocanharam mais de seis mil cargos no governo, mas resistem a
embarcar numa aventura golpista. Agora receberam um tranco com a demissão do ministro
da Defesa.
Mas
as primeiras reações à queda de Fernando Azevedo indicam que não será tão fácil
virar a mesa. Em solidariedade ao general, os comandantes de Exército, Marinha
e Aeronáutica acertaram uma renúncia conjunta. Bolsonaro poderá substituí-los,
mas sabe que a cúpula militar continuará a vê-lo como um capitão baderneiro.
Passado o impacto das trocas, a realidade deve voltar a se impor. Enquanto o presidente fabricava a crise nos quartéis, o Brasil bateu ontem um novo recorde de mortos pela Covid: 3.668 em apenas 24 horas.
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