A
saída simultânea dos três comandantes das Forças Armadas denuncia, em
seu ineditismo, um presidente da República que desconhece o papel da corporação
militar em uma democracia.
Jair
Bolsonaro, um capitão reformado de carreira reles no Exército, deseja endosso
mais explícito da caserna a seu governo —foi o que motivou, como convergem os
relatos disponíveis, a substituição do ministro da Defesa no rearranjo do
primeiro escalão promovido na segunda-feira (29).
Trata-se,
quando menos, de incentivar inadmissível politização dos quartéis, ideia que
parece excitar Bolsonaro especialmente às vésperas do aniversário do golpe de
1964 e quando se sente tolhido ou pressionado por instituições e forças
representativas da sociedade.
Tal pretensão abjeta não encontra eco no alto oficialato ativo do país. “Preservei as Forças Armadas como instituições de Estado”, manifestou-se em nota o general Fernando Azevedo e Silva, ao deixar a chefia do ministério. As palavras não estão lá por acaso.
O
presidente se incomodava particularmente, conforme se noticia, com o comandante
do Exército, Edson Leal Pujol, por declarações contrárias à intromissão de
militares na política e favoráveis a medidas de distanciamento social na Força
para evitar a Covid-19. O agora ex-ministro permaneceu ao lado do comandante.
Se
não dispõe de amparo a seus arroubos autoritários, Bolsonaro pretende exibir os
militares como instrumento de intimidação.
Loteia
o Executivo com fardados e dispensa tratamento orçamentário privilegiado à
Defesa; acha-se no direito de chamar as tropas de “meu Exército” —que não ajudará
a efetivar, segundo bravateia, medidas sanitárias de governadores.
Como
se não bastasse, ele e seus seguidores se metem perigosamente em demandas de
policiais civis e militares, em especial de escalões inferiores. Em exemplo
recente e hediondo, a deputada bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF) defendeu um
motim da PM baiana e chamou de herói um soldado que foi morto após atirar nos
colegas.
A
cúpula das Forças Armadas, felizmente, dá sinais de que compreende o dano
sofrido com a associação ao governo Bolsonaro —e o fiasco do general Eduardo
Pazuello na pasta da Saúde, que ameaça se transformar em ações na Justiça, é
apenas o exemplo mais vistoso.
Com alguma habilidade, a crise militar pode se desfazer sem tensões adicionais. Azevedo, Pujol e os demais comandantes saem por seu acertos, e Jair Bolsonaro só revela fraqueza quando tenta mostrar força além da conferida e limitada pela Constituição.
Nenhum comentário:
Postar um comentário