Bolsonaro
recebeu o sinal amarelo como verde-bandeira. E acelerou sua teimosia
Sinal
amarelo não significa pista livre, pise no acelerador. Ensinou-me um agente do
Detran, compadecido com o excesso de multas do meu prontuário: o sinal amarelo
pisca apenas dois segundos antes que venha o vermelho e a penalidade. Deve-se
parar. O presidente Jair Bolsonaro fez o contrário
diante do alerta do deputado Arthur Lira e do senador Rodrigo Pacheco. Ambos distraídos das
suas atribuições constitucionais de instalar CPIs e processos de desligamento
do presidente da República. Até aquele momento, quando empurrados por empresários,
nem sequer admitiam as pendências que se negavam a despachar, todas com risco
de letalidade, como avisou o presidente da Câmara.
Bolsonaro recebeu o sinal amarelo como um deslavado verde-bandeira. E acelerou sua teimosia diante da pandemia, acrescentando a ela uma impactante crise militar. O desmonte sumário do Ministério da Defesa mostrou que o País enveredou por um arriscado daltonismo. Além dos recordes de mortes e contaminações, os brasileiros passaram a conviver com a ideia de que se encontram em momento de instabilidade político-militar.
Uma situação artificial e perigosa. Se havia um setor do governo absolutamente equilibrado, silente, cumprindo seu papel constitucional, bem-sucedido no combate à pandemia segundo as regras da ciência, era o Exército.
Mas
Bolsonaro não quer nada disso: Normalidade, legalidade, disciplina. Quer adesão
cega à sua irracionalidade. Do Ministério da Defesa certamente esperava
engajamento na transformação das Forças Armadas em milícias a serviço dos seus
interesses e da proteção a seus filhos, o mesmo que espera da Polícia Federal e, por isso,
tirou do caminho o ministro que o impedia.
Criou-se
a impressão, muito difundida nos meios políticos, de que o novo movimento
bolsonarista tenta aprofundar a divisão já registrada no Exército. De um lado
os profissionais legalistas e de outro os admiradores dos delírios tresloucados
de Bolsonaro.
Nos
últimos cinco governos, foram avaliados como a mais discreta corporação entre
todas. Agora se acham às voltas com o que fazer diante desta divergência para a
qual se empenha o presidente da República. Foram dessacralizados, estão
condenados a perder o status de instituição do Estado.
E,
pior, vistos, por muitos, como um partido político de sustentação de Jair
Bolsonaro.
As
demais mudanças com as quais Bolsonaro furou o sinal amarelo aceso pelo
Congresso nada representam, com exceção da redução do Ministério da Justiça em
Ministério da Segurança.
Há
muito o presidente e seus filhos trabalham na consolidação de um Estado
policial, ancorado especialmente nas PMs, nas milícias e, esforço agora
reiterado, nas Forças Armadas. Conseguiram, finalmente, conquistar a cidadela
da Justiça, estrutura de ascendência sobre a Polícia Federal, cobiça explícita
do presidente que já derrubou um ministro.
Em
outra mudança, também demitiu o
chanceler, há muito desconsiderado, só aguardando o
pretexto. À moda Bolsonaro, já experimentada em outros carnavais, como os da
Educação e Saúde, foi substituído por um similar. Que dificilmente terá
experiência para resolver os problemas que determinaram a degola de seu
antecessor.
Ofereceu
também uma sala no Palácio do Planalto para uma ministra do PL, revelação do
Centrão. Ali os ruidosos parlamentares do grupo farão ponto enquanto aguardam
sua vez de falar com quem decide. A nomeação foi uma forma de conquistar para o
regaço bolsonarista um dos três mosqueteiros da facção, Valdemar Costa Neto. Que, apressado,
já estava na iminência de pular na canoa petista de Luiz Inácio Lula da
Silva.
Tais providências demonstram o esforço de cooptação que orienta todas as mobilizações e ousadias do candidato à reeleição, Jair Bolsonaro. E não avançam um passo na solução dos gravíssimos problemas que sufocam o País.
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