Por
Cristiane Agostine e Lilian Venturini / Valor Econômico
SÃO PAULO - O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), criticou o presidente Jair Bolsonaro pelo pronunciamento feito na noite desta terça-feira (23) em rede nacional de rádio e televisão. Pelo Twitter, o tucano disse que faltou “vergonha” e “verdade” ao presidente.
No
dia em que o país
registrou um novo recorde de óbitos por covid-19, com 3.158 mortes em 24 horas
— conforme levantamento do consórcio de veículos de imprensa —,
Bolsonaro afirmou no pronunciamento que “em nenhum momento o governo deixou de
tomar medidas importantes” para combater a pandemia. O país, no entanto, lidera
o número de mortes e de casos da doença no mundo. Já são mais de 298,6 mil
óbitos pelo novo coronavírus No Brasil e 12,1 milhões de pessoas contaminadas.
Durante o pronunciamento, o presidente
foi alvo de protestos em diversas cidades do país.
Ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) afirmou que o presidente estava “nitidamente acuado”. “Obrigado a falar de vacina, mas não tratou da falta de oxigênio, da necessidade de utilização de máscaras e do isolamento. Não mudou nada. Continua, infelizmente, patrocinando a morte de milhares de brasileiros”, criticou Maia.
O
ex-ministro e ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT), que convocou panelaços
contra o presidente para o momento do pronunciamento, escreveu que as mortes
por covid-19 "estarão pra sempre sobre os ombros de Bolsonaro".
Já
o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) reagiu com ironia.
"Comovente a forma como Bolsonaro tentou, mentindo muito, se passar por um
ser humano", escreveu em seu perfil no Twitter. Tanto Ciro quanto Haddad
disputaram a eleição de 2018 contra Bolsonaro.
Desde
o início da pandemia, o presidente minimizou a covid-19, criticou o uso de
máscaras, entrou na Justiça contra medidas de isolamento social adotadas pelos
governadores, promoveu aglomerações e interrompeu negociações para a compra de
vacinas.
Redução
de doses de vacinas
No
mesmo dia em que o presidente fez o pronunciamento em rede nacional para falar
que nunca deixou de tomar medidas contra a pandemia, o Ministério da Saúde
reduziu em cerca de 10 milhões a previsão do número de doses de vacinas contra
o coronavírus esperadas para abril. O total de vacinas a serem distribuídas
pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) no próximo mês passou de 57,1 para
47,3 milhões.
O
cronograma de 19 de março, em comparação com o anterior, mostra uma redução de
doses de duas vacinas: caiu a previsão de doses da vacina Oxford/AstraZeneca,
produzidas no Brasil pela Fiocruz de 30 milhões para 21,1 milhões, e não há
mais a previsão de entrega de 1 milhão de doses da vacina da Pfizer no mês que
vem, que havia anteriormente.
Hoje,
Bolsonaro disse no pronunciamento que “sempre” afirmou que adotaria “qualquer
vacina” desde que aprovada pela Anvisa.
As
ações do presidente, no entanto, foram em outra direção. No ano passado, em
outubro, Bolsonaro vetou a Coronavac e mandou cancelar o protocolo de intenções
de compra de 46 milhões de doses da vacina chinesa produzida em parceria com o
Instituto Butantan de São Paulo. Em relação à vacina Oxford/AstraZeneca, a
contratação foi feita antes da aprovação pela Anvisa.
Bolsonaro também rejeitou três propostas de compra da vacina da Pfizer, a primeira em agosto de 2020.
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