Empenho
de grupos de interesse impedirá que reformas tributária e administrativa sejam
abrangentes o suficiente
A
expansão média do PIB brasileiro nas últimas quatro décadas foi muito inferior
à média dos países emergentes, notadamente os da Ásia. A expectativa para os
próximos anos é ainda menos alvissareira, mesmo após as transformações das
últimas décadas. A inflação descontrolada, que justificou por muito tempo o
baixo crescimento, é parte do passado. O controle da taxa de câmbio em patamar
apreciado, considerado por muito tempo razão para o frágil desempenho da
economia, já não existe, apesar das intervenções nos mercados à vista e de swap
cambiais. A conquista da democracia e da liberdade política, fator importante
para estimular o crescimento, já está consolidada.
Todavia, há áreas que precisam de grande avanço. O ambiente de negócios, um empecilho à maior expansão da economia, tem evoluído pouco. A violência permanece elevada, o que reduz o fluxo de investimentos e de turismo. O risco jurídico se mantém exagerado, pois as ações judiciais são demoradas e sujeitas a muitos recursos - não é incomum ações contra a União demorarem mais de 20 anos.
A
baixa abertura comercial e as barreiras não comerciais continuam dificultando o
comércio internacional e a incorporação de tecnologia aos produtos locais. Ao
mesmo tempo, a alta carga de impostos e a estrutura tributária complexa
distanciam o país das cadeias globais de produção. Uma ampla abertura elevaria
bastante a produtividade na economia. Todavia, a redução unilateral de impostos
de importação dificilmente seria aceita pela maioria dos integrantes do governo
e pelos setores afetados.
As
peculiaridades do país têm gerado condições financeiras mais restritivas do que
em mercados maduros. Apesar dos avanços no crédito privado e na renda variável,
os financiamentos de longo prazo continuam concentrados nos bancos públicos, em
particular no BNDES, mesmo após a compatibilização dos juros dos empréstimos ao
custo da dívida pública. A desregulamentação do mercado de crédito ainda
precisa evoluir para que as instituições públicas apenas complementem uma
estrutura consolidada de financiamento privado.
A
questão fiscal tornou-se mais relevante nos últimos tempos no debate sobre o
crescimento devido ao recorrente déficit primário e ao aumento da dívida pública.
Ao mesmo tempo, como determinado na Constituição, vários gastos estão
vinculados à arrecadação de alguns tributos, enquanto outros são indexados à
inflação. Em um ambiente em que a regra do Teto dos Gastos limita a expansão do
dispêndio total, a ampliação vegetativa da parcela obrigatória tem reduzido
gradualmente a magnitude das despesas discricionárias, entre as quais os
investimentos públicos.
O
quadro fiscal tem prejudicado a retomada da atividade à medida que pressiona os
custos da dívida, por conta da sua maior magnitude e dos juros mais altos. Além
de enormes, os gastos são distribuídos de forma constitucionalmente predefinida
e influenciados por detentores de privilégios, como os dos funcionários
públicos e os dos setores mais organizados, independentemente dos benefícios em
termos de distribuição de renda, redução da pobreza ou aumento da
produtividade.
Essas
dinâmicas explicam a necessidade das Reformas Tributária e Administrativa. Não
obstante, apesar da sua importância, o empenho dos mais variados grupos de
interesse impedirá que essas reformas sejam abrangentes o suficiente para terem
efeito significativo nesta década.
A
intensa presença do Estado na economia é outro fator que interfere no
crescimento. A desestatização da economia está longe de ser concluída, apesar
da saída do Estado de setores como os de: telecomunicações - privatização de
empresas estaduais; energia elétrica - venda de empresas de distribuição e de
transmissão; transportes - concessões de estradas; bancário - venda de bancos
estaduais; e petróleo - concessão de direitos de exploração de petróleo e venda
de participações da P etrobras.
Muitos
parlamentares e membros do governo continuam resistindo à redução do papel do
Estado, mesmo em setores em que sua participação é desnecessária, como por
exemplo: Eletrobras, Telebras, Casa da Moeda, Petrobras, BNB e Banco do Brasil.
Mesmo as empresas em que se cogitou sua extinção ou incorporação sobreviveram e
continuam dependentes do Tesouro, tais como: Codevasf, Valec, Finep e EPL.
Cerca
de 65% da expansão média do PIB de 2,3% ao ano desde 1981 deveu-se ao bônus
demográfico - entrada de pessoas no mercado de trabalho superior ao de saída.
No período, a produtividade do trabalho permaneceu relativamente estagnada. Com
a exaustão desse bônus ainda nesta década, haverá provavelmente um substancial
declínio do crescimento, pois não há esperança de que haja um forte ciclo de
investimentos nem uma alta substancial da eficiência na economia nos próximos
10 anos. O aumento da produtividade do trabalho exigiria uma melhoria da
qualidade do ensino básico. Em um contexto de difícil recuperação das perdas
geradas pela pandemia no aprendizado, será difícil melhorar o ensino nos
próximos anos.
No
curtíssimo prazo, a situação não é melhor. Mesmo após a recessão de 2020, a
mediana das expectativas de mercado do Focus para o crescimento do PIB em 2021
é de somente 3,2%, com uma contração da atividade neste semestre seguida de uma
recuperação no 2º semestre. Como o carregamento estatístico - manutenção de crescimento
trimestral nulo em todos os trimestres - é de 3,6% para 2021, a expectativa é
de que a atividade, na média, recue ligeiramente em todos os trimestres deste
ano. Uma deterioração adicional na pandemia e uma alta da taxa Selic conforme
prevista no Focus de 225 pontos base (pb) em 2021 e 100 pb em 2022 podem
contribuir para uma redução significativa nas atuais projeções de crescimento.
Em
suma, o quadro para a atividade é bastante frágil. O risco é de o crescimento
continuar baixo por um período prolongado, pois os obstáculos, embora
conhecidos há muito tempo, dificilmente serão superados rapidamente.
*Nilson Teixeira, sócio-fundador da Macro Capital Gestão de Recursos
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