O
doutor Araújo é um expoente da estupidez que reina no governo
O
chanceler Ernesto Araújo pediu às embaixadas do Brasil que saiam às compras
para conseguir insumos médicos. Para quem se orgulhou da condição de “pária”,
hostilizou a China com o “comunavírus” e viu o oxigênio venezuelano chegando a
Manaus, foi no mínimo um gesto de humildade. O “projeto globalista” que, a seu
ver, ameaça o mundo, tem lá suas utilidades.
O
doutor Araújo é um expoente da estupidez que reina no governo. Está nas livrarias
a prova acabada dessa patetice. É o volume “Alexandre de Gusmão (1695-1753): o
estadista que desenhou o mapa do Brasil”, do embaixador Synesio Sampaio Goes
Filho.
Synesio é tudo o que Araújo ainda não conseguiu ser. Erudito, estuda a diplomacia brasileira e uma questão que pouca gente procura conhecer: como é que Portugal ficou com a Amazônia? Afinal, pela linha do Tratado de Tordesilhas (1494), suas terras paravam na foz do Amazonas. Diplomata, chefiou as embaixadas em Bogotá, Lisboa e Bruxelas. Além disso, presidiu a Fundação Alexandre de Gusmão, que foi uma usina de produção cultural do Itamaraty.
Foi,
porque, desde a chegada de Araújo, deixou de ser. Pela Fundação, o embaixador
já havia publicado “Navegantes, bandeirantes, diplomatas”. (O livro está na
rede, de graça.)
Em
2019, a Fundação recusou-se a publicar o “Alexandre de Gusmão”. Teria sido
pressão da Espanha, que perdeu as terras pelo Tratado de Madri, de 1750? Talvez
algum descendente do Marquês de Pombal, que azucrinava Gusmão? Nada. O livro de
Synesio Sampaio não podia ser publicado porque tinha um prefácio do embaixador
Rubens Ricupero, um ex-chanceler, ex-embaixador em Washington e
ex-secretário-geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e
Desenvolvimento. Motivo morrinha, coisa de patetas prepotentes.
Como
era de prever, o livro saiu por uma editora privada, a Record.
O
Brasil tem o formato de um presunto graças a grandes homens e à sabedoria de
Lisboa. Para começar, há a figura de Pedro Teixeira. Um português que, em 1637,
saiu do Pará com 47 canoas e chegou a Quito. No caminho, fundou o povoado de
Franciscana, nos confins do oeste do Vale Amazônico. Achava-se que havia por
ali um “Rio do Ouro”.
Em
1746, o paulista Alexandre de Gusmão, formado em Coimbra e em Paris, começou a
cuidar das negociações do Tratado de Madri. Quatro anos depois, Espanha e
Portugal se acertaram, e o Brasil ficou com o Vale do Amazonas. Com essa e
outras expansões, ficou dois terços maior.
Os
mapas mandados por Gusmão desenharam três mil quilômetros da fronteira do Norte
num texto de 66 palavras. Ele fez concessões nas fronteiras do Sul e foi
atazanado pelas intrigas da Corte. Era secretário do rei João V e, quando ele
morreu, o Marquês de Pombal afastou-o.
Fritaram
Alexandre de Gusmão, acusaram-no de ser judeu, “globalista” em araujês.
Em tempo: toda a mitologia do Eldorado amazônico corria atrás de uma montanha de ouro. Afinal, na Bolívia havia-se achado uma de prata. Ela existia. Em 1644, sete anos depois da partida de Pedro Teixeira, um sujeito chamado Bartolomeu Barreiros de Ataíde catou algum ouro na região do Araguaia, mas a montanha só foi achada em 1979, na Serra Pelada.
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