A
suspeição do ex-juiz desgasta muito mais o Supremo na opinião pública do que a
eventual candidatura do ex-magistrado, que passaria de justiceiro a injustiçado
O
ex-ministro da Justiça Sergio Moro foi considerado parcial no julgamento do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela Segunda Turma do Supremo Tribunal
Federal (STF), no caso do triplex de Guarujá. Foi uma reviravolta no
julgamento, que estava três a dois a favor do ex-juiz da 13a Vara Federal de
Curitiba, responsável pela Operação Lava-Jato. A ministra Cármen Lúcia, que já
havia votado contra a suspeição no começo do julgamento, mudou seu voto ao
final da sessão, acolhendo argumentos do presidente da Turma, ministro Gilmar
Mendes, e do ministro Ricardo Lewandowski. Segundo ela, a atuação de Moro não
foi imparcial, favoreceu a acusação e, portanto, houve um julgamento irregular.
Cármen Lúcia fez questão de ressaltar que a decisão se aplica apenas ao caso do triplex de Guarujá: “Não acho que o procedimento se estenda a quem quer que seja, que a imparcialidade se estenda a quem quer que seja ou atinja outros procedimentos. Porque aqui estou tomando em consideração algo que foi comprovado pelo impetrante relativo a este paciente, nesta condição”. Embora se diga que a ministra foi pressionada por Mendes durante o julgamento, a magistrada já havia sinalizado que poderia rever seu voto, na sessão anterior da Turma.
A
repercussão da decisão foi imediata. O presidente da Câmara, Arthur Lira
(PP-AL), inimigo declarado da Operação Lava-Jato, logo comemorou a suspeição de
Moro. O ambiente político no Congresso é muito adverso para ex-juiz federal e a
equipe de força-tarefa da Lava-Jato que realizou as investigações. No Palácio
do Planalto, Lula é considerado o principal adversário de Bolsonaro, mas a
candidatura de Moro é indesejada. Caso o ministro seja candidato, disputará
votos no campo antipetista, o mesmo que Bolsonaro leva em conta para viabilizar
a reeleição.
A
propósito, a suspeição de Moro desgasta muito mais o Supremo na opinião pública
do que a eventual candidatura do ex-juiz, que corre risco de passar de
justiceiro a injustiçado. Não é nada mal, se realmente resolver se candidatar a
presidente da República. Apesar de isolado politicamente, Moro continua sendo
um ícone da luta contra a corrupção e um nome fortíssimo à Presidência.
Dificilmente, será declarado inelegível pelo Supremo.
O ex-presidente Luiz Inácio da Silva é quem mais ganha com a decisão, porque reforça sua narrativa de que foi condenado sem provas, por um juiz sem isenção, com o objetivo político de afastá-lo do pleito de 2018. Mesmo assim, para grande parcela da opinião pública, o petista continua sendo o grande responsável pelo escândalo da Petrobras. Bolsonaro, supostamente, ganharia com o desgaste de Moro e a polarização com Lula, mas essa tese precisa ser combinada com o eleitor.
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