Cresce nos meios políticos e entre os analistas a crença de que o segundo turno de 2022 pode se dar sem a presença de Jair Bolsonaro. Não é por outra razão que dia sim, outro também, o presidente aumenta a estridência de suas declarações e as ameaças a adversários com supertrunfos como o estado de sítio.
Mas
como se daria esse cenário do presidente fora da reta final da disputa? Como o
impeachment ainda parece uma possibilidade pouco provável, não pela falta de
crimes de responsabilidade a granel, mas de apetite do Congresso, coragem das
forças econômicas e perda mais significativa de respaldo popular (que pode vir
e puxar as outras duas variáveis), a construção tem de ser pela política.
A volta de Lula ao tabuleiro eleitoral, anabolizada na tarde desta terça-feira pelo julgamento do habeas corpus de sua defesa pela Segunda Turma do STF, que reconheceu a suspeição de Sergio Moro para julgá-lo, foi o primeiro fator a ameaçar a presença garantida de Bolsonaro na “final” no ano que vem.
Embora
as pesquisas ainda sejam muito equilibradas e mostrem resultados numericamente
divergentes quanto a quem levaria a melhor entre os antagonistas Bolsonaro e
Lula, a se manter o caos na pandemia e, consequentemente, na economia, a
balança tende a pender para o lado do petista mais e mais.
Outro
fator a ameaçar a reeleição do capitão é o desejo manifestado nessas mesmas
pesquisas por boa parte do eleitorado de votar em alguém que não seja nem
Bolsonaro nem um petista (lembrando sempre que Lula está elegível hoje, mas
seus processos serão reiniciados, não se sabe de que ponto, pela Justiça
Federal no DF).
Até
aqui a dúvida dominante era a respeito de quem enfrentaria Bolsonaro no
returno: Lula ou um candidato alternativo? Agora não é absurdo pensar na
possibilidade de o confronto decisivo ocorrer entre o petista e essa terceira
via.
Não,
isso ainda não está dado. Bolsonaro tem pelo menos 22% de apoio ainda
declarado, de acordo com o mais pessimista dos levantamentos de opinião. Mas é
algo possível de construir pela política, caso os partidos acordem do sono
letárgico em que parecem hibernar, em meio à situação mais caótica em todas as
frentes que o Brasil já enfrentou.
Também
é um movimento que já está em marcha em amplos setores da sociedade, como mostram
indicadores tão distintos como o manifesto com mais de mil assinaturas dos
economistas em prol da racionalidade no trato da pandemia, os panelaços de
“Fora Bolsonaro”, as reações ao estado policialesco contra adversários do
presidente e o crescente desconforto até no apalermado Congresso Nacional com o
desgoverno reinante e o galope descontrolado de mortes em todo o território
nacional.
Aconteceu
o mesmo com Donald Trump. Por lá, a pandemia foi um fator a galvanizar esses
descontentamentos, que estavam difusos, e a forçar a oposição do Partido
Democrata a se unir em torno de Joe Biden.
Aqui começam timidamente ensaios de arranjos de chapas que pudessem limpar o meio de campo de muitos candidatos perna de pau nas pesquisas e fazer surgir uma dupla competitiva. Nos últimos dias, fui procurada por articuladores de partidos com composições as mais diversas. Alckmin-Mandetta? Alexandre Kalil-Luiza Trajano? A mais manjada Luciano Huck-Moro? Em cada uma há senões, guerras de egos, vetos dentro desse e daquele partido e hesitação dos envolvidos. Mas o que há mesmo é a falta, até aqui, de consciência por parte do establishment político não petista de que é possível construir essa alternativa, desde que o diálogo comece agora, seja sistemático, envolva setores amplos da sociedade civil para além dos partidos e contemple uma alternativa concreta de projeto de país para reconstruir o que foi destruído por Bolsonaro.
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