Ideia
é fazer pressão para que Bolsonaro permita um governo funcional na epidemia
Empresas
querem financiar leitos extras de UTI, também em hospitais privados. Mas querem
um incentivo para facilitar essa ajuda, por assim dizer. Foi uma das ideias que
deram em reuniões com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL),
e do Senado, Rodrigo
Pacheco (DEM-MG), entre outras. O essencial seria levar Jair
Bolsonaro a fazer uma reviravolta no governo.
Alguns
empresários dizem que ainda seria possível arrumar leitos extras de UTIs em
hospitais privados, que as reservam para pacientes de cirurgias eletivas, até
por motivos financeiros. As empresas “comprariam” esses leitos em tese ainda
disponíveis, com algum incentivo de redução de impostos.
As
reuniões desta segunda-feira (23) acontecem na onda da repercussão da carta de
economistas, financistas e empresários contra a política
sanitária insana de Bolsonaro. Vamos chama-lo de movimento “cartista”, com
ironia histórica (o Cartismo foi um movimento político operário que surgiu na
Inglaterra dos anos 1830).
De política mesmo, o movimento pretende “aumentar a pressão” para que Bolsonaro ao menos deixe de sabotar o combate à epidemia. A pressão mais direta acontece por meio de conversas com lideranças do Congresso. Não tem impeachment no programa.
De
mais objetivo, do que se trata? Pressão para que esse ministro novo
da Saúde ou algum outro tenha autonomia para “fazer o básico”
contra a epidemia. Dar poder a algum outro ministro para conduzir negociações
comerciais urgentes com o objetivo de comprar vacinas, remédios e o que faltar
para manter o atendimento nos hospitais. Fazer mudanças legais que facilitem a
importação de remédios e equipamentos (menos impostos, menos normas
restritivas, por um período de emergência), urgentemente, até porque, dizem
esses empresários, o preço de medicamentos nacionais explodiu. “Tem de abrir a
importação ontem”, diz um deles.
O
ideal seria uma “reforma ministerial” que pusesse um ministro viável no
Itamaraty e outro no Meio Ambiente (para atenuar a ruína da imagem e das
negociações internacionais) além de criar um coordenador de governo (Casa
Civil? Não dizem). Além de colocar gente funcional nos cargos, a “reforma
ministerial” serviria de “freio de arrumação” e sinal objetivo de mudança.
Bolsonaro teria de renunciar a si mesmo.
O
próximo passo depende do que Bolsonaro diria no seu pronunciamento
previsto para a noite desta terça-feira e na reunião que marcou
com os demais Poderes para esta quarta.
Um
banqueiro disse que, se fosse assessor de imprensa de Bolsonaro, inventaria um
discurso do gênero “o que passou, passou, a epidemia está terrível e temos de
mudar, eu e todo mundo, vamos virar a página”, uma desconversa assim para
temperar uma mudança de fato.
A
descrença na mudança é grande. A pressão deve aumentar, diz um executivo que
não é da finança. “Muita gente [empresários etc.] está agindo desde o ano
passado, doa dinheiro, faz pressão no governo, no Congresso, até entra em
conflito público, como o Armínio [Fraga]. Mas, para muitos, a ficha só caiu
agora. Para falar francamente, essas pessoas viram que podem ficar sem
hospital”, diz esse executivo.
Um
financista diz que não apenas a situação sanitária é pior do que em 2020, mas
também a econômica. O gasto do governo não poderia crescer como no ano passado,
as taxas de
juros estão subindo, a piora da epidemia vai provocar outro paradão
econômico que ainda não tem perspectiva de terminar —depende da vacina, efeito
que só seria visível lá por julho, se tudo der certo. “Precisamos de
‘lockdowns’ até ter vacina. Vai ser péssimo. A alternativa é muito pior”.
CPI da Saúde? Não esteve na conversa. Impeachment? Muito menos. Também não há articulação política no sentido estrito, se por mais não fosse porque empresários “cartistas” e dos encontros parlamentares têm preferências diferentes —vários são bolsonaristas.
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