De
volta à pergunta que não cala há dois anos
Salvo
se recuar do que disse na última sexta-feira ao jornal El País, logo mais, a
partir das 14h, quando concederá uma entrevista coletiva à imprensa na sede do
Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, Lula repetirá que só será
candidato à sucessão de Bolsonaro se os brasileiros quiserem, mas que está
disposto a isso e que fará política até seu último dia de vida.
Em
outubro de 2022, ele completará 77 anos de idade. Joe Biden, presidente dos
Estados Unidos, estará com 78. Considera-se em boa forma para enfrentar mais
uma campanha e afirma sentir-se como se tivesse apenas 30 anos – um exagero,
por suposto, mas político costuma exagerar quando a seu favor. Tomará a
primeira dose de vacina contra a Covid na próxima semana.
Tão logo tome a segunda dose e seja liberado pelos médicos, começará a viajar para fazer o que mais gosta – conversar. Falar mais do que ouvir. Relembrar as realizações dos seus governos. E bater duro em Bolsonaro, que ele considera um acidente na história do Brasil, um perigo à democracia, e responsável em parte pelas mortes da pandemia que deixou correr solta.
Em
telefonemas, ontem à noite, trocados com amigos, Lula, que se emociona
facilmente, pareceu chorar ou ter chorado. Não esperava a decisão do ministro
Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, de anular suas condenações.
Espantou-se com ela. Punha mais fé, mesmo assim duvidando, que a Segundo Turma
do tribunal aceitasse o pedido de suspeição do ex-juiz Sérgio Moro.
O
ex-presidente não se cansa de dizer que não alimenta rancores, que ser refém de
rancores faz mal a às pessoas, mas que abre uma exceção quando se trata de
Moro. Vê-lo considerado suspeito pela mais alta corte de justiça do país lhe
daria uma satisfação indescritível. Talvez fosse a única maneira de
recobrar a paz interior e de doravante limitar-se a olhar para frente.
A
Segunda Turma do tribunal, presidida pelo ministro Gilmar Mendes, poderá
presenteá-lo com isso. Talvez hoje mesmo ao voltar a se reunir. Se não, em
breve, muito breve. Fachin pode ter reabilitado Lula com o propósito de
estancar a sangria da Lava Jato que ele defende acima de tudo, Gilmar, porém,
está disposto a enterrar a Lava Jato com desonra.
Dado
à pandemia, 2020 foi mais um ano que não terminou. Com a decisão de Fachin,
2022 chegou mais cedo para os políticos e os que giram em torno da política.
Apague tudo o que você já leu sobre a próxima eleição presidencial – possíveis
candidatos, eventuais chances de cada um, como os principais partidos deverão
se comportar até lá, o efeito do coronavírus…
Recomecemos.
Dificilmente, até meados de 2022, haverá tempo para que o juiz federal que herdará
os processos contra Lula o condene em algum deles, a instância seguinte da
justiça avalize a condenação, de forma que o ex-presidente seja alçado
novamente à condição de ficha suja, o que o impossibilitaria de ser candidato.
Às vezes, a justiça aprende com seus próprios erros.
No
PT não tem espaço para mais ninguém – o candidato será Lula. Não acabou, mas
sofreu um duro golpe o sonho de partidos da esquerda de disputarem a eleição
com outro nome, apartando-se do PT e atraindo partidos do centro. Ciro Gomes
será candidato a presidente pela quarta vez – a última, caso perca. Se não
viajar a Paris, apoiará quem for para o segundo turno, menos Bolsonaro.
A
retroescavadeira usada por Fachin para desfigurar o que estava em construção
fortaleceu a candidatura do apresentador Luciano Huck à sucessão de… Faustão,
de saída da telinha da Rede Globo de Televisão. Dinheiro nunca é demais para
ninguém, e a proposta que a emissora lhe fez é tentadora. Faz parte do pacote
de benefícios um programa para Angélica, cobiçada pela Record.
Pela
direita que se apresenta como centro para não ser confundida com o Centrão,
quem se afirmará como candidato? João Doria (PSDB), governador de São Paulo,
que por mais que vacine brasileiros continua sem decolar nas pesquisas de
intenção de voto? Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde? Surgirá um novo
nome? O tempo escasseia, o tempo urge.
A
extrema direita já tem dono – Bolsonaro, que retomou os ataques a Lula e ao PT
e incluiu Fachin entre seus alvos. O auxílio emergencial vem por aí para que
ele reconquiste uma fatia da popularidade perdida. Bolsonaro foi visto
negociando a compra de vacinas da Pfizer e despachou para Israel uma comitiva
atrás de um milagroso spray nasal em fase de testes por lá.
À
primeira vista, e enquanto a terra ainda treme, daqui a 19 meses poderá ganhar,
enfim, uma resposta a pergunta que teima em não calar: Lula, que preso liderava
todas as pesquisas, teria vencido ou sido derrotado por Bolsonaro em 2018? Nos
seus cálculos, deixem a facada de fora, um ato insano e covarde do seu autor e
de quem dele valeu-se para fugir aos debates.
Bolsonaro ofende a honra do governador do Rio Grande do Sul
Um
presidente obsceno
O presidente Jair Bolsonaro descontrolou-se ao saber da decisão do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, de anular as condenações de Lula, devolvendo-lhe as condições para que dispute as próximas eleições.
Seus
auxiliares mais próximos não queriam que ele, por enquanto, comentasse a
decisão. Achavam que nada teria a ganhar com isso. Ofereceram-se para plantar
informações na imprensa dando conta de que a decisão o beneficiaria, e assim
foi feito.
Mas
Bolsonaro é Bolsonaro, fala quando quer e só dá ouvido a quem pensa como ele.
Passou recibo partindo para cima do PT e de Lula, e não poupou sequer Fachin,
acusando-o de ter sempre militado na esquerda, e atingindo assim, por tabela, o
tribunal.
A
falta de vacina tirou Bolsonaro do sério, se é que um presidente bem composto
ele já foi um dia. Bolsonaro aproveitou também o embalo para fazer insinuações
obscenas contra Eduardo Leite (PSDB), governador do Rio Grande do Sul, em
entrevista à BAND:
“Onde o governador, que fala muito manso, educadamente, uma pessoa até simpática, mas é um péssimo administrador. Onde ele enfiou a grana [das vacinas]? Não vou responder pra ele, mas acho que sei onde colocou a grana toda, não colocou na saúde”.
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