O
terremoto Fachin terá muitos efeitos secundários, mas começou mudando o dia de
ontem. Havia amanhecido um tempo ruim para o presidente Bolsonaro, com o pacto
entre governadores deixando claro que a sua inépcia agravava a tragédia da
pandemia. No fim do dia, abrigado num guarda-chuva, Bolsonaro falou longamente
sobre variados assuntos, reclamou até da alta do dólar provocada pela decisão
que beneficiou o ex-presidente Lula. “A bolsa foi lá pra baixo, o dólar lá pra
cima. Todos nós sofremos com uma decisão como essa”. Nos dias anteriores, o
dólar subiu e a bolsa despencou por causa dele, Bolsonaro.
Um dos primeiros efeitos da decisão de Fachin de anular tudo o que foi decidido a partir da 13ª Vara Federal de Curitiba sobre Lula é mudar o cenário para a eleição de 2022, com Lula elegível. Outra consequência é que réus como o ex-governador Sérgio Cabral e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha podem vir a se beneficiar da reviravolta. Todos que não forem diretamente ligados à Petrobras podem questionar seus processos. Cabral foi condenado pela Calicute e julgado pela 7ª Vara, no Rio, mas um ministro do Supremo me disse que, a partir de agora, tudo tem chance de ser revisto.
Bolsonaro
voltou a ficar confortável para falar da “bandalheira” do PT. E afirmou que os
desvios do BNDES haviam sido de “trilhão de real”. Ele nunca conseguiu, nem
mesmo trocando o presidente do banco, abrir a tal caixa-preta do BNDES, mas
cria uma cifra imaginária e assim pode fugir de temas incômodos, como a mansão
comprada pelo seu filho Flávio. Ontem mesmo, o procurador junto ao TCU, Lucas
Furtado, iniciou um procedimento questionando o fato de o senador Flávio
Bolsonaro ter casa e usar apartamento funcional. Isso seria, segundo o
procurador de contas, “crime e ato de improbidade”.
Uma
das questões incômodas para Bolsonaro era o fim da Lava-Jato. Afinal, ele
surfou na onda anticorrupção, sem qualquer relação prévia com essa agenda.
Foram as decisões de seu governo, primeiro minando o pacote anticrime, depois
instalando um inimigo da Lava-Jato na Procuradoria-Geral da República (PGR),
que levaram ao desmonte das Forças-Tarefas. Portanto, a conta estava com ele.
Ontem, ele jogou o peso sobre o ministro que anulou as condenações de Lula.
“Luis Fachin sempre teve forte ligação com o PT. Então não nos estranha uma
decisão nesse sentido”. Na verdade, Fachin tomou muitas decisões contrárias ao
PT.
Um
ministro do Supremo, surpreso com a decisão de Fachin, me disse o seguinte.
“Ele negou tudo o que Lula pediu e agora, de repente, dá tudo de uma vez só”.
Outro disse que era a “estratégia de desespero” do ministro, diante das várias
derrotas recentes da sua relatoria.
O Brasil, este país que não é para amadores, viveu ontem vários dias num dia só. De manhã, governadores articulavam com os presidentes da Câmara e do Senado a criação de um comitê de crise para a tomada de decisões coordenadas. Eu falei com dois governadores que estavam tentando negociar a coalizão mais ampla possível. Isso deixa evidente a total incompetência do presidente da República, que sabota as medidas de proteção da saúde dos brasileiros. “Nós estamos vivendo uma catástrofe”, desabafou um governador. Minutos depois, todas as atenções estavam voltadas para Lula e a disputa de 2022. Bolsonaro, que não sabe governar, voltou ao que se dedica desde o primeiro dia: a fazer campanha e contra o PT.
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