Danielle
Brant, Renato Machado e Gustavo Uribe / Folha de S. Paulo
BRASÍLIA
- A decisão
do ministro Edson Fachin (Supremo Tribunal Federal) de anular os
processos contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e restaurar
seus direitos políticos foi recebida com preocupação por líderes de partidos de
centro.
A
avaliação tanto de deputados como de senadores é de que uma candidatura do
petista enfraquece a formação de uma frente
ampla contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para as
eleições presidenciais de 2022.
O
diagnóstico é de que uma disputa entre Lula e Bolsonaro tende a retomar a
polarização política de 2018, deixando pouco espaço para o fortalecimento de
uma terceira via.
Nesta
segunda-feira (8), Fachin concedeu habeas corpus para declarar
a incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba para julgar quatro processos
que envolvem Lula –o do tríplex, o do sítio de Atibaia, o de compra de
um terreno para o Instituto Lula e o de doações para o mesmo instituto.
O
ex-presidente está, portanto, com os direitos políticos recuperados e pode se
candidatar a presidente em 2022. Segundo líderes petistas, Lula ainda não tomou
uma decisão formal, mas já demonstrou disposição em tentar retornar ao comando
do Palácio do Planalto.
Defensor
da frente ampla para 2022, o ex-presidente da Câmara dos Deputado Rodrigo
Maia (DEM-RJ) observa que Lula e Bolsonaro são posições fortes na política
nacional e que caberá aos partidos de centro contruir um projeto.
“O que cabe agora para aqueles que se opõem ao
PT e ao Bolsonaro que consigam construir um projeto de centro viável e que
tenha chance de fazer o debate e o enfrentamento político com as duas posições
mais fortes da política nacional", disse.
O
líder do MDB no Senado Federal, Eduardo Braga (MDB-AM), acredita que ainda deve
haver novos desdobramentos na tramitação do processo na justiça federal no
Distrito Federal, por isso ainda é cedo para tratar da candidatura de Lula.
No entanto, Braga acredita que participação do petista não necessariamente fará solapar uma frente contra Bolsonaro, uma vez que ele duvida da possibilidade de haver a formação de uma grande aliança política já no primeiro turno da eleição de 2022.
"Só
podemos falar em frente ampla contra Bolsonaro no segundo turno [das eleições].
No primeiro turno, é impossível se falar em frente ampla", completou.
Para
o líder do PSB na Câmara dos Deputados, Danilo Cabral (PE), a decisão
transforma Lula no candidato natural do PT e, assim, cabe aos partidos de
centro articular um projeto
alternativo.
“O
PSB, através do seu processo de autorreforma, está formulando uma proposta para
colocar em discussão junto à sociedade e pode, após concluído esse debate,
apresentar uma alternativa própria para a disputa eleitoral", disse.
O
senador Izalci Lucas (PSDB-DF) criticou a decisão de Fachin e disse que não tem
dúvidas de que " há motivos para a cassação dos direitos políticos" de
Lula. Ele descarta qualquer hipótese de estar lado a lado de Lula nas próximas
eleições, mesmo que seja para derrotar Bolsonaro.
"Eu
não tenho nenhuma dúvida [de que a participação de Lula atrapalha uma frente
ampla]. Onde Lula estiver eu quero estar longe", afirmou.
Se
o centro lamentou, congressistas de partidos de esquerda comemoraram a decisão
de Fachin. A deputada federal Talíria Petrone (RJ), líder do PSOL na Câmara dos
Deputados, afirmou que a decisão faz justiça.
“É
a retomada do curso normal do devido processo legal que foi rompido através de
uma manipulação jurídico-midiática, que, do nosso ponto de vista, consolidou um
golpe institucional e abriu caminho para o bolsonarismo”, afirmou.
“Não
à toa, [o ex-ministro Sergio] Moro, o rei da Lava Jato, virou ministro do
[presidente Jair] Bolsonaro. Então para nós o correto é isso, os direitos
políticos de Lula foram corretamente retomados, e isso inclusive já deveria ter
ocorrido em 2018”.
A
deputada federal Jandira Feghali (PC do B-RJ) parabenizou Fachin por tomar a
“decisão correta, mesmo que tardia”. “Essa posição já era defendida por vários
juristas e desembargadores. Lula foi preso injustamente e agora retoma direitos
políticos. Que venha a suspeição de Moro”, escreveu em uma rede social.
Em
caráter reservado, deputados bolsonaristas também avaliaram a decisão como
favorável a Bolsonaro em um cenário de polarização política. Para eles, na
conjuntura atual, seria melhor para o atual presidente enfrentar um nome com
uma rejeição elevada como a dele.
Os
aliados de Bolsonaro, contudo, observam que, apesar de o presidente ter um
desempenho melhor em um cenário de polarização, é preciso avaliar se o atual
desgaste de imagem causado pelo aumento
de mortes com a pandemia do coronavírus pode fazer com que a sua
rejeição supere a de Lula.
A
decisão de Fachin causou insatisfação ainda a partidos que tradicionalmente
defendem a Operação Lava Jato. Para o líder do Cidadania na Câmara dos
Deputados, Alex Manente (SP), a decisão foi lamentável e representou um
"retrocesso no combate à corrupção e impunidade”.
“A
Lava Jato contribuiu de maneira decisiva para que o Brasil avançasse no combate
à corrupção dos poderosos, e essa é uma decisão que nós temos que lamentar,
esperando que o Ministério Público recorra e que a turma no Supremo possa
reverter essa decisão", disse.
Para
Igor Timo (MG), líder do Podemos na Câmara dos Deputados, a decisão causa
"perplexidade”, depois de “mais de 400 recursos apresentados pela defesa
do ex-presidente serem negados".
"E também após trânsito em julgado na primeira e segunda instância e também no STJ", acrescentou.
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