A
CPI da Covid já produziu seu primeiro milagre: transformou Flávio Bolsonaro num
defensor do isolamento social. Ontem o senador tentou convencer os colegas a
deixar a investigação para depois. “Por que não esperar todo mundo se
vacinar?”, sugeriu.
A
preocupação tardia com a doença não foi a única surpresa do discurso. Com a
pele bronzeada pelas férias no Ceará, o primeiro-filho atacou o presidente do
Senado, o relator da CPI e até a bancada feminina. O falatório não virou votos
para o governo, mas escancarou o desespero do clã presidencial.
Pelo que se viu ontem, a família tem motivos para temer a comissão. Na sessão inaugural, a tropa bolsonarista levou um baile. Flávio ainda foi obrigado a engolir uma descompostura da senadora Eliziane Gama. Ela avisou que ali não era lugar para chute na porta e ironia machista. Só faltou dizer que o Zero Um não estava em Rio das Pedras.
Quando
a reunião começou, os governistas se agarraram à liminar que impedia Renan
Calheiros de assumir a relatoria. Foi uma tática desastrada. Como se previa, a
decisão foi derrubada rapidamente. O senador se sentou na cadeira e desceu a
lenha no Planalto.
“Vamos
dar um basta aos suplícios, à inépcia e aos infames”, discursou. Ele atacou o
negacionismo e prometeu “apontar culpados”. Num recado a Jair Bolsonaro, citou
os genocidas Augusto Pinochet e Slobodan Molosevic. “O país tem o direito de
saber quem contribuiu para as milhares de mortes, e eles devem ser punidos”,
arrematou.
Renan
também criticou a entrega do Ministério da Saúde ao general Eduardo Pazuello,
que no domingo passeava sem máscara num shopping de Manaus. “A diretriz é
clara: militar nos quartéis e médicos na saúde. Quando se inverte, a morte é
certa”, disse.
O
emedebista não se limitou à retórica: de cara, apresentou 11 requerimentos. A
lista inclui a convocação de quatro ministros da Saúde, a requisição de
documentos e o compartilhamento do inquérito das fake news.
No dia em que a comissão entrou em campo, Bolsonaro usou cinco palavras para defender seu desempenho na pandemia. “Eu não errei em nada”, garantiu. O capitão vai precisar de outro milagre para convencer a CPI.
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