No
Brasil, ao padecimento sanitário juntou-se um governo negacionista e caótico
Outro
dia, o capitão perguntou:
—
O que eu me preparo?
E
respondeu:
—
Não vou entrar em detalhes, um caos no Brasil.
Em
março do ano passado, Bolsonaro reclamava da “histeria” diante do vírus,
levantava o estandarte do Apocalipse, com uma frase que explica seu
comportamento diante da pandemia:
—
Vai ter um caos muito maior se a economia afundar. Se a economia afundar,
afunda o Brasil. (...) Se acabar a economia, acaba qualquer governo. Acaba o
meu governo.
Entre as duas referências de Bolsonaro ao caos, morreram perto de 400 mil pessoas, e a população aguentou o tranco com sofrimento e paciência.
Todos
os povos e governos sofrem com a pandemia. No Brasil, ao padecimento sanitário
juntou-se um governo negacionista e caótico. Fritou três ministros da Saúde,
combateu o distanciamento, menosprezou as máscaras e enalteceu as virtudes da cloroquina.
Uma
coisa é um governo que se acautela diante do risco de um caos. (Nesse caso, os
detalhes são bem-vindos.) Bem outra é apreciar o caos, até mesmo desejando-o.
Em
apenas uma semana, o governo de Bolsonaro produziu alguns episódios
sinalizadores de um governo que, até mesmo por inépcia, patrocina o caos.
O
programa Pátria Solidária, aninhado no Palácio do Planalto com o objetivo de
recolher doações para enfrentar a pandemia, gastou R$ 9,6 milhões para fazer
propaganda de si e arrecadou R$ 5,89 milhões.
A
Secretaria de Comunicação do Planalto não comentou a discrepância. Até há bem
pouco tempo, ela era dirigida pelo doutor Fabio Wajngarten. Ele acabara de dar
uma entrevista contando que, em setembro, tentou apresentar ao Ministério da
Saúde uma proposta do laboratório Pfizer. Já haviam morrido 123 mil pessoas:
—
Se o contrato da Pfizer tivesse sido assinado em setembro ou outubro, as
vacinas teriam chegado no fim do ano passado. (...) Incompetência e
ineficiência.
Dias
depois, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello foi fotografado num shopping
center de Manaus sem máscara, fazendo piada com a transgressão:
—
Onde se compra isso?
O
general estava nas redes, e seu sucessor, Marcelo Queiroga, de máscara, contava
que faltavam vacinas para a segunda dose em alguns estados porque eles seguiram
a recomendação do ministério de avançar sobre os estoques.
Bolsonaro
sonhava com crises antes mesmo da pandemia. Com ela, transmutou-se num São
Jorge cavalgando o cavalo branco para matar o dragão e salvar a princesa. Ela
está lá, de máscara, e o dragão não apareceu. Os desconfortos que afligem o
governo decorrem da armadura desconjuntada do Santo Guerreiro, de sua lança torta
e de uma sela visivelmente desconfortável.
A
marquetagem do Pátria Solidária, as revelações de Wajngarten, a conduta de
Pazuello e a falta de vacinas refletem um caos que está no governo, não vem de
fora dele.
A
Subchefia de Articulação e Monitoramento da Casa Civil de Bolsonaro encaminhou
a 13 ministérios uma pauta de 23 perguntas que poderão aparecer na CPI da
Covid, pedindo pronta resposta.
Lê-las
é um passeio pelo caos da desarticulação e da falta de gestão do governo. Algum
membro da CPI bem que poderia devolvê-las, perguntando por que a curiosidade só
surgiu agora.
Nas próximas quatro quartas-feiras, o signatário usufruirá o isolamento e o ócio, sempre pesquisando as virtudes da cloroquina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário