Volta ao mercado de trabalho é desafio, em especial para informais
Por Ana Conceição e Lucianne Carneiro /
Valor Econômico
São Paulo e do Rio - O mercado de trabalho brasileiro bateu vários recordes negativos no primeiro trimestre e um novo recrudescimento da pandemia eleva as incertezas sobre quando haverá uma recuperação do nível de emprego aos níveis de 2019. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou ontem que a taxa de desemprego chegou a 14,7% no período, a maior desde que a pesquisa foi iniciada, em 2012. No mesmo período do ano passado, era de 12,2%.
Também marcaram história no primeiro
trimestre o número de desempregados, 14,8 milhões, e o de desalentados (aqueles
que desistiram de procurar uma ocupação), 5,97 milhões. Os subutilizados,
também conhecidos como mão de obra desperdiçada, ou porque estão desempregados
ou porque trabalham menos do que gostariam, chegaram a 33,2 milhões, outro
recorde. Quem tem algum tipo de ocupação no mercado formal ou informal somou
85,65 milhões, 6,6 milhões a menos que no primeiro trimestre de 2020.
“É o pior momento do mercado de trabalho. O
aumento da desocupação é esperado para essa época do ano. Mas essa sazonalidade
pode estar sendo reforçada pelo acúmulo [das perdas] ao longo de 2020”, afirma
Adriana Beringuy, gerente da Pnad no IBGE. Assim, mesmo em meio à piora da
pandemia mais pessoas voltaram ao mercado em busca de renda. Ao não conseguir
ocupação, elevaram o desemprego. Todas as 351 mil pessoas que voltaram a buscar
emprego no primeiro trimestre não encontraram colocação.
Segundo Beringuy, não é possível avaliar o impacto da ausência de pagamento do auxílio emergencial na busca por trabalho no primeiro trimestre de 2021. Essa busca, no entanto, foi puxada principalmente pelas regiões Norte e Nordeste, onde o auxílio tem peso. maior No Norte, a taxa de desemprego subiu para 14,8%, no primeiro trimestre de 2021, e no Nordeste, para 18,6%.
O professor emérito do Instituto de
Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), João Saboia diz que
não há perspectiva de melhora no curto prazo e destaca o grande contingente de
subutilizados e a fraqueza da massa de rendimentos, obstáculos para a retomada
da atividade econômica, segundo ele.
A massa salarial ficou em R$ 212,5 bilhões
no primeiro trimestre de 2021, 1,5% inferior à do quarto trimestre e 6,7% menor
ante o mesmo período de 2020. Quanto aos subutilizados, de 33,2 milhões, apenas
7 milhões estão trabalhando, mas menos horas do que gostariam. “Trata-se de um
enorme desperdício de pessoas que poderiam estar inseridas no mercado de
trabalho”, diz, acrescentando: “Em relação ao futuro, sou pessimista para este
ano, pelo menos”.
Os resultados da Pnad mostram que a volta
ao mercado de trabalho tem sido desafiadora para quem busca uma ocupação,
sobretudo entre aqueles considerados informais, diz o economista Bruno
Imaizumi, da LCA Consultores.
“O recrudescimento da pandemia em março
pode responder por parte deste movimento, o que deve ter perdurado em abril,
quando a taxa deve ter subido para 14,9%”, afirma. Para ele, a volta do auxílio
emergencial no mês passado não deve ser um fator decisivo para que as pessoas
optem por não buscar ocupação, uma vez que o valor foi drasticamente reduzido
em relação ao pago em 2020.
Tiago Cabral, economista do Instituto
IDados, diz que o pico do desemprego, antes previsto para o primeiro trimestre
deste ano, deve ocorrer no terceiro trimestre, por causa do recrudescimento da
pandemia e da lentidão da vacinação. “Esses fatores nos levaram a rever a
projeção do pico, que era de 14,8% em março, para 15,5% em setembro.”
O setor de serviços, que emprega 70% da mão de obra, deve continuar muito afetado pelas restrições, em especial nos segmentos que dependem de público presente, como trabalho doméstico, bares, restaurantes, hotéis, etc. “Não vislumbramos flexibilizações [das regras de distanciamento] mais fortes à frente, mas o cenário é de bastante incerteza”, diz Cabral.
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