sexta-feira, 28 de maio de 2021

Desemprego bate recorde e não há melhora no horizonte

Volta ao mercado de trabalho é desafio, em especial para informais

Por Ana Conceição e Lucianne Carneiro / Valor Econômico

 São Paulo e do Rio - O mercado de trabalho brasileiro bateu vários recordes negativos no primeiro trimestre e um novo recrudescimento da pandemia eleva as incertezas sobre quando haverá uma recuperação do nível de emprego aos níveis de 2019. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou ontem que a taxa de desemprego chegou a 14,7% no período, a maior desde que a pesquisa foi iniciada, em 2012. No mesmo período do ano passado, era de 12,2%.

Também marcaram história no primeiro trimestre o número de desempregados, 14,8 milhões, e o de desalentados (aqueles que desistiram de procurar uma ocupação), 5,97 milhões. Os subutilizados, também conhecidos como mão de obra desperdiçada, ou porque estão desempregados ou porque trabalham menos do que gostariam, chegaram a 33,2 milhões, outro recorde. Quem tem algum tipo de ocupação no mercado formal ou informal somou 85,65 milhões, 6,6 milhões a menos que no primeiro trimestre de 2020.

“É o pior momento do mercado de trabalho. O aumento da desocupação é esperado para essa época do ano. Mas essa sazonalidade pode estar sendo reforçada pelo acúmulo [das perdas] ao longo de 2020”, afirma Adriana Beringuy, gerente da Pnad no IBGE. Assim, mesmo em meio à piora da pandemia mais pessoas voltaram ao mercado em busca de renda. Ao não conseguir ocupação, elevaram o desemprego. Todas as 351 mil pessoas que voltaram a buscar emprego no primeiro trimestre não encontraram colocação.

Segundo Beringuy, não é possível avaliar o impacto da ausência de pagamento do auxílio emergencial na busca por trabalho no primeiro trimestre de 2021. Essa busca, no entanto, foi puxada principalmente pelas regiões Norte e Nordeste, onde o auxílio tem peso. maior No Norte, a taxa de desemprego subiu para 14,8%, no primeiro trimestre de 2021, e no Nordeste, para 18,6%.

O professor emérito do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), João Saboia diz que não há perspectiva de melhora no curto prazo e destaca o grande contingente de subutilizados e a fraqueza da massa de rendimentos, obstáculos para a retomada da atividade econômica, segundo ele.

A massa salarial ficou em R$ 212,5 bilhões no primeiro trimestre de 2021, 1,5% inferior à do quarto trimestre e 6,7% menor ante o mesmo período de 2020. Quanto aos subutilizados, de 33,2 milhões, apenas 7 milhões estão trabalhando, mas menos horas do que gostariam. “Trata-se de um enorme desperdício de pessoas que poderiam estar inseridas no mercado de trabalho”, diz, acrescentando: “Em relação ao futuro, sou pessimista para este ano, pelo menos”.

Os resultados da Pnad mostram que a volta ao mercado de trabalho tem sido desafiadora para quem busca uma ocupação, sobretudo entre aqueles considerados informais, diz o economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores.

“O recrudescimento da pandemia em março pode responder por parte deste movimento, o que deve ter perdurado em abril, quando a taxa deve ter subido para 14,9%”, afirma. Para ele, a volta do auxílio emergencial no mês passado não deve ser um fator decisivo para que as pessoas optem por não buscar ocupação, uma vez que o valor foi drasticamente reduzido em relação ao pago em 2020.

Tiago Cabral, economista do Instituto IDados, diz que o pico do desemprego, antes previsto para o primeiro trimestre deste ano, deve ocorrer no terceiro trimestre, por causa do recrudescimento da pandemia e da lentidão da vacinação. “Esses fatores nos levaram a rever a projeção do pico, que era de 14,8% em março, para 15,5% em setembro.”

O setor de serviços, que emprega 70% da mão de obra, deve continuar muito afetado pelas restrições, em especial nos segmentos que dependem de público presente, como trabalho doméstico, bares, restaurantes, hotéis, etc. “Não vislumbramos flexibilizações [das regras de distanciamento] mais fortes à frente, mas o cenário é de bastante incerteza”, diz Cabral.

Nenhum comentário: