- O Globo
A CPI da Covid é um sucesso de audiência.
Dominou o noticiário político e o debate nas redes sociais. A comissão já
reuniu provas da omissão e dos crimes do governo na pandemia. Mas tem derrapado
ao oferecer palco para a desinformação e o negacionismo.
Na terça-feira, uma secretária do
Ministério da Saúde aproveitou os holofotes para vender a farsa do “tratamento
precoce”. Mayra Pinheiro mostrou por que ganhou o apelido de Capitã Cloroquina.
Fez uma defesa entusiasmada do remédio, que não tem eficácia contra o
coronavírus.
A doutora foi desmentida ao vivo pelo senador
Otto Alencar, que é médico e lembrou que a substância só serve para o
tratamento da malária. Mesmo assim, sua performance foi aplaudida pela claque
governista.
Ontem o senador Marcos do Val assumiu o papel de garoto-propaganda do curandeirismo. Ele imitou o presidente Jair Bolsonaro ao discursar com uma caixa de cloroquina nas mãos. Depois sugeriu que o colega Major Olímpio, morto em março, estaria vivo se tivesse tomado o remédio.
Em outro momento de baixaria, o senador
Eduardo Girão citou a morte do sambista Nelson Sargento, aos 96 anos, para
levantar suspeita sobre a eficácia das vacinas. Ele também repetiu o boato de
que a Coronavac seria produzida com células “extraídas de fetos abortados”.
O presidente do Instituto Butantan, Dimas
Covas, esclareceu que o imunizante só usa células de macaco. Mas a pergunta já
foi suficiente para alimentar a máquina de fake news do governo.
Do Val e Girão integram a “bancada da
cloroquina”, disposta a tudo para defender o capitão. O grupo também inclui o
ruralista Luis Carlos Heinze, que não perde uma chance de citar o pequeno
município de Rancho Queimado como um oásis na pandemia. É um erro desprezá-lo
como uma figura folclórica. Ele foi o senador mais votado do Rio Grande do Sul
e deve disputar o governo em 2022.
Na próxima semana, a CPI pode voltar a
servir de palanque para a negação da ciência. A comissão ouvirá Nise Yamaguchi,
integrante do “gabinete das trevas” que aconselha o presidente na pandemia. Se
os senadores não se prepararem, arriscam ser enrolados pela médica
bolsonarista. “Eles tentam confundir a população. Nunca houve tanta leviandade
e má-fé na história da medicina”, critica Otto Alencar.
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