Mesma
covardia que o impediu de repelir ordens contrárias ao dever do cargo e à vida
de milhares
Se
a balbúrdia na CPI da Covid continuar como nas
primeiras sessões de interrogatórios e proposições, pode-se
esperar que traga contribuição importante, apesar de não se pressentir qual
seja. O tumulto dá a medida da fragilidade e do medo bolsonaristas diante da
cobrança por sua associação à voracidade letal da pandemia.
Mas
a clarinada do “não me toques”, protetora de militares acusados ou suspeitos de
qualquer impropriedade, não resolverá o caso Pazuello.
Militares valendo-se do Exército para fugir da responsabilidade por seus atos,
convenhamos, até parece parte da concepção de ética militar. Os generais que
mantiveram a ditadura de Getúlio, os do golpe de 64, do golpe de 68, os
oficiais da tortura e dos assassinatos, os do Riocentro,
esses e muitos outros construíram a praxe.
Nisso há distinção. Os escapismos que recaem na reputação do Exército cabem, antes de tudo, à corporação, à oficialidade, não à instituição. É a deseducação cívica em atos. A fuga de Eduardo Pazuello vai além: não vem da arrogância infundada, ou de uso do Exército para se imaginar acobertado por conveniência da instituição. É covardia, a mesma covardia que o impediu de repelir ordens contrárias ao bom senso, ao dever do cargo e à vida de milhares.
O novo
comandante do Exército, Paulo Sérgio de Oliveira, mostrou-se
preocupado com reflexos, sobre o Exército, do que haja no depoimento de
Pazuello à CPI. Esse problema é de Pazuello e de Bolsonaro. Não é assunto
militar, logo, o Exército não tem de se envolver. Se o fizer, aí sim, merecerá
arcar com todos os reflexos dos crimes contra a humanidade presentes em grande
parte do morticínio de mais de 400 mil brasileiros.
A
ROTINA
O
massacre do Carandiru pela polícia de São Paulo, o maior da história com
o extermínio de
111 presos encurralados, motivou incontáveis protestos sob
formas variadas. Com efeito que não foi além dos próprios assassinatos. Na
Amazônia, massacres
policiais ocorrem em sequência só igualada pela inconsequência
punitiva. No Rio, os 28 mortos da
favela do Jacarezinho compõem o maior massacre policial na
cidade e motivam protestos incontáveis. Três exemplos da rotina sinistra que
todo o Brasil mantém, com diferenças apenas aritméticas.
Nem
a rotina, nem os protestos, nem a insegurança —nada interfere na correnteza
desumana. A mais recente solução prometida para o Rio foi protagonizado pelo
hoje ministro da Defesa, general Braga Netto. Chefe da intervenção
federal na Segurança do estado, feita por Michel Temer, chegou
proclamando a “limpeza da polícia” como prioridade e eixo da solução. Com um
bilhão para tal. De notável, comprou enorme frota de carros, armas e
equipamentos de comunicação. No mais, a tal limpeza talvez tenha ficado nos
muros de quartéis, onde vigora a obsessão por pintura de paredes e postes.
Os métodos
ficaram intocados.
O
armamento dado como apreendido no Jacarezinho é espantoso. Pela quantidade e,
ainda mais, pela qualidade: todo moderno e novo, incluindo duas
submetralhadoras. É sempre arriscado aceitar essas apreensões como verdadeiras,
mas não há dúvida de que armas continuam entrando a granel no Brasil. Por ora,
para uso bandido. E ainda imaginam que o perigo de conflito está na Amazônia,
com estrangeiros.
Todo
o problema
policial foi construído na ditadura, com as PMs postas sob comando
de militares do Exército e métodos norte-americanos. E com os seus esquadrões
da morte, “homens de ouro” e impunidade. Todo plano de solução é ineficaz se
não busca eliminar esse legado.
RIQUEZA
FÁCIL
A
juíza Mara Elisa Andrade determinou a
devolução da madeira ilegal, objeto da maior apreensão já feita, que
causou o incidente entre o delegado
Alexandre Saraiva e, defensores dos madeireiros, o ministro
Ricardo Salles e o senador Telmário Mota. A juíza considerou faltarem, no
inquérito, as datas de corte das árvores, o período em que a estrada
clandestina foi aberta e se o uso dela é exclusivo.
É assim, com esses desvios, que nunca prendem nem prenderão os grandes e enriquecidos desmatadores-contrabandistas. E Mara Elisa é juíza, não por acaso, na 7ª Vara Federal Ambiental e Agrária do Amazonas.
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