"Enquanto não se
armar uma frente amplíssima, que garanta uma transição sem susto, o regime se
mantém por falta de alternativas críveis. O que se apresenta como alternativa é
a candidatura do
Lula. A candidatura do
Lula – com todos os méritos que possa ter e tem –, não tem a
capacidade de organizar, reaglutinar e apaixonar a população em torno de uma
ação comum. A última manifestação teve um caráter amplo, não foi partidária,
mostra por onde se pode ir e por onde se deve avançar. Esse caminho já foi
percebido por nós no passado, na luta contra o
regime militar: o caminho da amplíssima coalizão que
resultou na reabertura com um nome como
Tancredo [
Neves],
que não era um nome marcado ideologicamente; era um
democrata liberal, convicto, um homem
da negociação. E agora? Não temos nada. A candidatura Lula não ajuda. A grande
contribuição que Lula poderia dar – e acho difícil ele fazer isso – é ele mesmo
se tornar o peão ou um dos peões da articulação dessa
frente amplíssima, na busca por um
nome que pudesse representar todos os descontentes, todos os dissidentes, todos
os que não se conformam com a grosseria e a estupidez do governo que aí está.
Os militares têm que ser considerados. Um pouco do que falei
se aplica a eles: quanto mais a frente for ampla e irrestritamente ampla, mais
se torna difícil a intervenção
militar. Não há como ter uma intervenção contra o conjunto da sociedade
mobilizada em torno de uma ideia. O caminho da intervenção militar é o da polarização. Redescoberta a
possibilidade democrática para o país, as forças futuras são imensas, de
revigoramento dos movimentos sociais, dos partidos democráticos, de um novo
parlamento, porque este que está aí é desprezível, é um parlamento que perdeu o
léxico da sociedade. O parlamento não é representativo da sociedade brasileira
de forma alguma; é um parlamento bolsonarista. As possibilidades no horizonte
são muito generosas se soubermos agora articular uma política de frente amplíssima que desloque
esse regime. Deslocado, aí o mundo é outro."
*Luiz Werneck Vianna, sociólogo, PUC-Rio.
Entrevista, IHU On-Line, 26 de junho 2021
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